Em algumas
temporadas, Londrina é iluminada por festivais. A cidade recebe artistas ao
mesmo tempo em que mostra sua arte. Foi
assim em mais uma edição do Festival Internacional de Londrina - FILO - que termina hoje – será assim nos próximos dias com o Festival
Literário de Londrina – LONDRIX – que começou na sexta feira e termina dia 14
Se uma coisa
referencia Londrina no mapa nacional é a Cultura. Ecos que vem de longa data,
dos festivais mais antigos – como o de Música e Teatro - aos mais recentes como o de Dança, Literatura
e Cinema. Essas iniciativas – algumas feitas com dinheiro
escasso – fazem a cidade entrar num outro movimento: o das metrópoles que
podem contar com artistas nacionais e
internacionais , conectando-se com o que há de melhor no cenário contemporâneo.
Artistas, público e imprensa ligados simultaneamente à produção cultural não
fazem parte do contexto comum de outras
cidades do porte de Londrina. Quem vive aqui tem sintonia com grandes
espetáculos, conceito que não se mede pelas superproduções, mas pela qualidade
artística às vezes de pequenos grupos.
Nesta edição do
FILO , havia espetáculos que podem figurar em qualquer mostra cosmopolita. A
apresentação de “Black Madonna”, com a bailarina norte-americana Maureen
Fleming , no Teatro Marista, arrancou elogios e críticas. Elogios dos que
reconhecem sua performance como uma colagem de linguagens que extrapola a dança
e chega às artes plásticas, à poesia e ao cinema, num espetáculo multimídia que
propõe desafios e reflexões. Sua arte pode não ser compreendida pelos que não estão prontos para o lúdico,
para o teatro visual feito de imagens, movimentos
e equilíbrios exatos. Os imediatistas,
os apressados ou condicionados à dinâmica televisiva não têm paciência para
absorver o que exige sentidos atentos, abertos a uma compreensão sutil do que
se passa no palco. O fast food do espetáculo passa longe de uma proposta como
essa.
Também na
programação, “Irmãos de Sangue” – co-produção Brasil/França, apresentada pela
Compagnie Dos à Deux no Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã –
foi de uma beleza arrebatadora e trouxe à memória do público a falta que faz, no
momento, um teatro maior para londrina. A perda do Ouro Verde e a falta de um
Teatro Municipal ficam mais evidentes quando um grupo apresenta um trabalho
deste nível numa cidade vizinha que oferecia uma espaço compatível com as suas
necessidades técnicas. Por aqui, fomos salvos mais uma vez pelos espaços
alternativos, com lotação esgotada quase todas as noites.
Há de ressaltar
que a platéia de Ibiporã, onde se encontravam também muitos londrinenses, foi
de uma delicadeza notável pelo silêncio, pelos celulares desligados, o respeito
e a reverência aos artistas que
fizeram “Irmãos de Sangue” uma das boas
surpresas deste festival. Houve ali o encontro de uma platéia madura com um
trabalho de vanguarda, associação que
remete à importância da formação do público , legado dos festivais.
São estes detalhes que inserem o Norte do Parsná no mapa cultural do País: uma platéia educada
para uma arte sofisticada.
“Antes da Chuva” foi uma ótima escolha da
curadoria do FILO, o grupo que vive na cidade fluminense de Três Rios mostrou
porque é considerado uma revelação do
teatro nacional. Apresentou um espetáculo em palco nu, sem cenário - ou mais exatamente com um “cenário” de 550 gramas,
que consistia numa caneca e um livro -,
mas com excelente cenografia proporcionada por uma iluminação envolvente que
marcava as ações de apenas dois atores: Bruna Portella e Luan Vieira. No momento em que escrevo este artigo, o festival
aind não terminou e não conheço tudo o que está por vir. Mas Londrina teve
acesso a uma diversidade de linguagens que conecta o público com o que há de
inovador na cena nacional e internacional. Nas temporadas dos festivais, luzes
se acendem não só nos palcos. Há uma
iluminação mais importante que dica pelo conhecimento, pela troca que a arte propicia. Que a cidade continue
aberta a essas iniciativas, assim como as cabeças. Cultura é humanidade. (
Texto da escritora CELIA MUSILLI, celiamusilli@terra.com.br WWW.sensiveldesafio.zip.net
publicado na Folha 2 do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 7 de Setembro ee
2014).
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