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domingo, 7 de setembro de 2014

CULTURA É SINTONIA FINA


     Em algumas temporadas, Londrina é iluminada por festivais. A cidade recebe artistas ao mesmo tempo em que mostra  sua arte. Foi assim em mais uma edição do Festival Internacional de Londrina  -  FILO  - que termina hoje – será  assim nos próximos dias com o Festival Literário de Londrina – LONDRIX – que começou na sexta feira e termina dia 14
     Se uma coisa referencia Londrina no mapa nacional é a Cultura. Ecos que vem de longa data, dos festivais mais antigos – como o de Música e Teatro -  aos mais recentes como o de Dança, Literatura e Cinema.  Essas  iniciativas – algumas feitas com dinheiro escasso – fazem a cidade entrar num  outro movimento: o das metrópoles que podem  contar com artistas nacionais e internacionais , conectando-se com o que há de melhor no cenário contemporâneo. Artistas, público e imprensa ligados simultaneamente  à produção cultural     não fazem parte do contexto comum  de outras cidades do porte de Londrina. Quem vive aqui tem sintonia com grandes espetáculos, conceito que não se mede pelas superproduções, mas pela qualidade artística às vezes de pequenos grupos.
     Nesta edição do FILO , havia espetáculos que podem figurar em qualquer mostra cosmopolita. A apresentação de “Black Madonna”, com a bailarina norte-americana Maureen Fleming , no Teatro Marista, arrancou elogios e críticas. Elogios dos que reconhecem sua performance como uma colagem de linguagens que extrapola a dança e chega às artes plásticas, à poesia e ao cinema, num espetáculo multimídia que propõe  desafios e reflexões. Sua  arte pode não ser compreendida  pelos que não estão prontos para o lúdico, para o teatro visual feito de imagens,  movimentos e equilíbrios  exatos. Os imediatistas, os apressados ou condicionados à dinâmica televisiva não têm paciência para absorver o que exige sentidos atentos, abertos a uma compreensão sutil do que se passa no palco. O fast food do espetáculo passa longe de uma proposta como essa.
     Também na programação, “Irmãos de Sangue” – co-produção Brasil/França, apresentada pela Compagnie Dos à  Deux  no Teatro Padre José Zanelli, em Ibiporã – foi de uma beleza arrebatadora e trouxe à memória do público a falta que faz, no momento, um teatro maior para londrina. A perda do Ouro Verde e a falta de um Teatro Municipal ficam mais evidentes quando um grupo apresenta um trabalho deste nível numa cidade vizinha que oferecia uma espaço compatível com as suas necessidades técnicas. Por aqui, fomos salvos mais uma vez pelos espaços alternativos, com lotação esgotada quase todas as noites.
     Há de ressaltar que a platéia de Ibiporã, onde se encontravam também muitos londrinenses, foi de uma delicadeza notável pelo silêncio, pelos celulares desligados, o respeito e a reverência  aos artistas que fizeram  “Irmãos de Sangue” uma das boas surpresas deste festival. Houve ali o encontro de uma platéia madura com um trabalho  de vanguarda, associação que remete à  importância da  formação do público , legado dos festivais. São estes detalhes que inserem o Norte do Parsná  no mapa cultural do País: uma platéia educada para uma arte sofisticada.

      “Antes da Chuva” foi uma ótima escolha da curadoria do FILO, o grupo que vive na cidade fluminense de Três Rios mostrou porque é considerado  uma revelação do teatro nacional. Apresentou um espetáculo em palco nu,  sem cenário  - ou mais exatamente com um “cenário” de 550 gramas,  que consistia numa caneca e um livro -, mas com excelente cenografia proporcionada por uma iluminação envolvente que marcava as ações de apenas dois atores: Bruna Portella e Luan Vieira.  No momento em que escrevo este artigo, o festival aind não  terminou e não conheço  tudo o que está por vir. Mas Londrina teve acesso a uma diversidade de linguagens que conecta o público com o que há de inovador na cena nacional e internacional. Nas temporadas dos festivais, luzes se acendem não só nos  palcos. Há uma iluminação mais importante que dica pelo conhecimento,  pela troca que a arte propicia. Que a cidade continue aberta a essas iniciativas, assim como as cabeças. Cultura é  humanidade. ( Texto  da escritora CELIA MUSILLI, celiamusilli@terra.com.br    WWW.sensiveldesafio.zip.net publicado na Folha 2 do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 7 de Setembro ee 2014).

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