Transcrição da crônica escrita por IDIMÉIA DE CASTRO, publicada no caderno Folha Rural, 9 e 10 de fevereiro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA
Em 1956, Uraí, pequena cidade do Norte do Paraná, ocupou o primeiro lugar na produção de rami na América do Sul. É conhecida como a Capital do Rami e sua colonização teve por base a imigração japonesa.
Em 1963, havia o Educandário Divina Pastora. Dirigido pelas Irmãs Franciscanas do Coração de Maria. Funcionava o internato, o jardim da infância, o primário e também recebia as meninas que iam ser freiras, as juvenitas. Muitas famílias da zona rural e cidades vizinhas, internavam suas filhas e, de Sertaneja, era eu, as irmãs Kairuz, a Cida e a Sálua. A Eny da Warta, a Mitsuê de Santa Cecília do Pavão, etc. Estudávamos no Ginásio Assunção, do Frei Pascoal, que ficava a poucas quadras do Educandário. Íamos para a escola de manhã, depois voltávamos para o internato, com a rotina dos estudos. Gostava de ver os bebês dormindo em seus berços, os maiores em colchonetes, em salas coloridas, alegres, com suas mesas e cadeirinhas para as crianças que ali passavam o dia. As Irmãs eram muito dedicadas. Nós, as internas, ficávamos separadas dos alunos. No refeitório, todos os dias era escalada uma menina para dirigir as orações e ler pequenos textos bíblicos e boas maneiras. Depois podíamos conversar.
Éramos três amigas inseparáveis: a Eny, a Mitsuê e eu. Tomávamos o café da manhã, pegávamos nosso material e íamos para o ginásio, uma meia hora antes de iniciar as aulas. Andávamos bem devagarzinho e como conversámos! De repente, caminhando rápido ao nosso lado, a Irmã Elizabete, uma jovem alta, bonita, noviça (ia ser freira) que também estudava conosco. Passava por nós e dizia: “Vamos, meninas, caminhem! A vida vai ensinar vocês a andarem mais depressa...” A gente só ria, mas eu nunca mais esqueci aquela frase. Uma vez, andando pelos corredores do Educandário, encontrei a Irmã Maria Célia, da Costura – uma japonesinha tímida toda assustada, andando apressada. Perguntei-lhe o que tinha acontecido. Ela parou e me disse: “Idiméia, mataram o Presidente Kennedy!”. Era o dia 22 de novembro de 1963. A notícia nos deixou tristes, porque ele era uma figura muito querida no mundo todo. À noite, na Capela, rezamos pelo John Kennedy e, por vários dias, não se falava em outra coisa, só na sua morte trágica.
O Sr. Sussumu Itimura, era um dos grandes benfeitores do Educandário. Uma vez ele nos convidou para passar o dia em uma de suas fazendas. Soube que ele era chamado de O Rei do Rami por ser um dos grandes produtores dessa cultura. Diziam que ele tratava bem seus empregados, as casas da colônia de suas fazendas tinham água encanada, luz elétrica, todo o conforto da época. Ele tinha sido eleito o próximo prefeito de Uraí e depois teve mais duas legislaturas. Outro prefeito foi o Dr. Wanderley B. Dantas, que se casou com minha colega de classe, a Hilda Ito. Eles e o irmão do prefeito, o meu amigo Júlio César, também estudaram no ginásio Assunção.
Foi um ano de estudos muito bom, só que não participei da minha formatura do Ginásio. Mais tarde, o Educandário passou a ser Escola Franciscana Divina Pastora. Hoje é o Colégio Divina Pastora, da educação infantil ao ensino médio, não mais dirigido pelas religiosas. O Ginásio Assunção passou a ser Seminário Assunção dos Freis Capuchinhos. Em 1984, passou a pertencer à Paróquia de Uraí, e hoje é o Centro Pastoral Assunção, onde há aulas de catequese e encontro de pastorais.
Realmente, nesse outro colégio interno passei momentos importantes da minha vida! (FONTE: Crônica escrita por IDIMÉIA DE CASTRO, leitora da FOLHA, caderno FOLHA RURAL, página 2, coluna DEDO DE PROSA, 9 e 10 de fevereiro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA.
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