Crônica escrita por MANOEL JOAQUIM R. DOS SANTOS, PADRE EM Londrina, publicado pelo jornal FOLHA DE LONDRINA, 4 de janeiro de 2019, coluna ESPAPO ABERTO, página 2.
Vi sem nenhuma surpresa, que somente 65% dos brasileiros acreditam que o novo governo será bom ou ótimo. Não existe, a meu ver, nesta estatística, nenhum juízo de valor em relação a Bolsonaro ou aos seus ministros! Vejo, sobretudo, que os cidadãos deste país estão mais realistas e começam a acreditar veementemente, que nada surge do nada nem existe mágica para resolver os seus problemas. Ora, isto é um excelente começo! Temos visto ao longo dos anos manifestações pueris, principalmente na noite do réveillon, ou no início de novos governos, em que os cidadãos creditam ao novo em si, a solução dos problemas e o desvencilhar dos nós e gargalos da nossa economia.
Reconheço, é claro, que no fracionamento do tempo e na consequente possibilidade de mudança de ciclos e de anos, o ser humano é possuído por um entusiasmo e vontade de mudança, incríveis. Sei também, que o desejo e a projeção para novas situações mais benfazejas, levam necessariamente à mudança de hábitos e a atitudes, que são a gêneses do surgimento do que realmente se quer atingir. Poderíamos dizer sem exagero que, quando o homem quer, algo acontece! A virada do ano é geralmente acompanhada de aspirações e projetos para o ano seguinte que em inúmeros casos acabam mudando a vida das pessoas. Tudo isso é bom; tudo isso é legítimo. O ano novo terá a cara dos que nele viverem deixando para trás velhos e caducos hábitos. A cada dia, a cada novo ciclo, nos reinventamos e nos damos a possibilidade de sermos melhores e mais humanos.
O governo que agora começa, está repleto de intenções e estratégias para reduzir o déficit, para empregos e para colocar a casa em ordem. Não poderia ser diferente, tendo em conta que uma das bandeiras de campanha era o rompimento com o passado. O presidente e seus ministros pretendem dar ao Brasil um ritmo de crescimento que seja alvissareiro para os milhões de desempregados e devolva ao país a confiança internacional. Ao nomeador um juiz da Lava Jato para ministro da Justiça, dá indicações claras que quer virar a página da corrupção e criar mecanismos para inibi-la. Existem, portanto, razões para acreditar que 2019 será um ano de grandes mudanças. Afinal, boa vontade dos protagonistas foi explicitada em nomes e situações que assim nos levam a crer.
Mas, os 65% de confiança neste governo em termos de sucesso, mencionados atrás, é o menor número desde 1989! Isto não é um detalhe. A sabedoria popular diz que gato escaldado de água fria tem medo! O brasileiro comum com mais de 50 anos já viu e sentiu na pele este mesmo filme, que tantos dissabores lhe trouxe. Não se trata de pagar para ver! Trata-se, sim, de ter os pés no chão. Homens não fazem milagres e quando estes existem, pertencem à esfera do extraordinário, promovidos por Deus, As ótimas intenções e desejos precisam de um trilho adequado para que o trem passe e dê configuração ao que os mandatários se propõem. A tal da recuperação da economia, por exemplo, é o grande desejo da totalidade dos brasileiros, mas infelizmente depende de incontáveis fatores internos e externos. A eliminação da corrupção é literalmente impossível, pois faz parte de qualquer sociedade conviver com índices, ainda que mínimos, dessa autêntica chaga social. Esperamos apenas do governo leis rigorosas e o cumprimento das atuais, para diminuí-la. O que já seria um enorme presente de Ano Novo. Acabar com o déficit nas contas públicas, parece uma equação facílima que qualquer dona de casa conhece, mas, o Estado brasileiro demanda uma reforma gigante para que isso seja possível sem inviabilizar seu funcionamento; se virmos sinais de que pretende gastar menos que arrecada, já é um excelente começo!
O choque de realismo acontece, quando se vê a realidade da forma mais verossímil possível e todos se sentem compreensíveis pelas melhorias almejadas cobrando dos governantes de plantão, as promessas efetuadas. Que venha então um Novo Ano e um excelente governo! (FONTE: Crônica escrita por MANUEL JOAQUIM R. DOS SANTOS, padre em Londrina, coluna ESPAÇO LIVRE, página 2, sexta-feira, 4 de janeiro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA. * Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br).
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