Crônica transcrita da página 3 , caderno FOLHA 2, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRIN, escrita por DOMNGOS PELLEGRINI, jornalista e escritor, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, 19 e 20 de janeiro de 2019.
LIÇÕES DE CORRUÍRA
Já contei aqui, com essa mesma foto, que corruíra fez ninho na varanda do escritório. Agora, observindo, ou seja, observando o que pode servir, apresentou as lições da corruíra esperando serem úteis para as pessoas e especialmente para os empreendedores.
Primeiro, a corruíra é prática e previdente. Prevendo vendavais e predadores, e sabendo-se passarinho miúdo, com biquinho inofensivo e com garras úteis apenas para agarrar comida e gravetinhos, a corruíra faz ninho em buraco de árvore ou até em casinha de joão-de-barro. Para ali carrega seus gravetinhos, armando o pequeno ninho que, entretanto, estará protegido pela grande árvore ou pela casa emprestada, como numa franquia.
Segunda lição, a corruíra faz o que o Sebrae recomenda, avaliar muito bem a localização. A casinha pendurada aqui na varanda foi visitada pela corruíra e seu parceiro muitas vezes, indo e voltando durante umas duas semanas, antes mesmo de trazerem qualquer graveto ou fiapo. E sumiam pelo resto do dia, decerto a visitar outras opções até a decisão final.
Terceira lição, a corruíra trabalha com gosto. Visitando a casinha, canta ao entrar, canta ao sair, canta estrondosamente para passarinho tão pequeno. Com muitos empreendedores conversei desde repórter iniciante nesta FOLHA há meio século, e posso atestar que os bem sucedidos gostam tanto de trabalhar de reclamar quanto os mal sucedidos gostam de reclamar.
Quarta lição, ainda localização – mas, agora, já visando o deslocamento. As cidades, essa grande invenção, nos trouxeram porém o problema do trânsito. Uma vez um velho comunista, daqueles que acreditavam na utopia de Marx com honestidade e humanidade, me disse que via a futura sociedade perfeita com todos trabalhando perto de casa. Adeus, engarrafamentos, adeus, tempo de vida perdida no trânsito! Todos morariam perto do trabalho, da escola, do mercado, de tudo – como a corruíra que passou a alimentar seus filhotes com calaburas, frutinhas de árvore ali do vizinho, percebemos porque deixou uma cair na varanda. Danadinha, nem leu Marx e fez o ninho ao lado do armazém.
Quinta lição, educação para auto-suficiência. Conforme passaram-se os dias, os filhotinhos foram virando pássaros, empenando asas e saindo para o mundo. Mas um ficou a piar sozinho, talvez por ser o caçula ou o fracote da turma, e sabe o que a corruíra fez? Nada: sumiu, deixando o bichinho a piar o dia inteiro. Mas, no dia seguinte, ele não estava mais lá. Não há dependências nas famílias corruíras.
Ficou o ninho na casinha, com um graveto espetado para fora, onde ela pousava antes de entrar ou sair. Lição de inovação? Certo é que a corruíra é um dos poucos passarinhos a viver em todas as Américas, portanto deve saber o que faz. Deixou o ninho feito na casinha para a próxima estação, e também deixou saudade. ***************************************
NOTÍCIA DA CHÁCARA
A semente de abacate, soltando longas raízes ainda dentro do fruto, deve ser de uma nova variedade melhorada geneticamente. Ao contrário das sementes que passam tempo em dormência antes de germinar, suas raízes parecem já pedir terra, ansiando pela continuidade da espécie, mandamento de todos os bichos e plantas. Botei num vazinho e zapt, num instante o caroço germinou com folhas de verde vivo, que porém depois começaram a amarelar. Então botei a mudinha na terra, há poucas semanas, e já está da altura do meu joelho. Viva a vida! (FONTE: Crônica escrita por DOMINGOS PELLEGRINI, página 3, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI, caderno Folha 2, 19 e 20 de janeiro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA..
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