O conhecimento que possui sobre a
Revolução Francesa salvou a vida de um professor de História, semana passada,
em São Paulo. Confundido com um homem que acabara de assaltar um bar, André
Luiz Ribeiro, 27 anos, foi acorrentado e espancado por uma multidão. O dono do
estabelecimento é apontado como um dos agressores. A violência só parou quando
uma equipe do Corpo de Bombeiros que passava pelo local interferiu e um dos
bombeiros pediu que a vítima comprovasse que era professor falando sobre a
Revolução Francesa. Machucado e humilhado, Ribeiro deu uma aula, no meio da
rua, sobre o movimento que explodiu no final do século 18, na época em que a
França era governada por uma monarquia absolutista.
O professor de uma escola pública paulista
falou para os seus carrascos e para os bombeiros sobre o cenário de
insatisfação que tomou conta do país governado pelo rei Luís 16, lembrou que a
Corte era abastecida com privilégios e festas enquanto parte da população
passava fome. Explicou, ainda, os ideais iluministas de igualdade, liberdade e
fraternidade. Ideais que não foram considerados no momento em que o rapaz
acabou detido e ficou preso por dois dias, mesmo sem provas de participação no
assalto. A única acusação veio do dono
do bar, que o teria reconhecido.
Ribeiro contou que os agressores não quiseram ouvi-lo e ignoraram os
pedidos de socorro. Casos como esse, infelizmente, começam a se multiplicar no
Brasil, com relatos de pessoas tentando fazer justiça com as próprias mãos e,
na maioria das vezes, isso acaba muito mal. Basta lembrar o caso da dona de casa do litoral paulista que
foi confundida com uma seqüestradora de
crianças e acabou morta por uma multidão ensandecida.
Essas ocorrências demonstram
a falta de confiança da população para com os aparelhos do Estado responsáveis pela segurança pública. Mas nada
justifica uma volta à barbárie. Independentemente se comprovado o envolvimento
do professor com o assalto, os agressores têm que responder à Justiça por tentativa de homicídio. A
humanidade evoluiu e não aceita mais julgamentos do tipo “dente por dente, olho
por olho”. Quanto aos bombeiros, embora eles tenham evitado um linchamento,
será difícil convencer de que não foi deboche o pedido para que o professor ferido desse uma aula sobre a
Revolução Francesa. ( Extraído do
jornal FOLHA DE LONDRINA, COM PUBLICAÇÃO NO ESPAÇO OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br,
quinta-feira, 3 de julho de 2014 ).
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