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quinta-feira, 3 de julho de 2014

IGUALDADE, LIBERDADE E FRATERNIDADE


     O conhecimento que possui sobre a Revolução Francesa salvou a vida de um professor de História, semana passada, em São Paulo. Confundido com um homem que acabara de assaltar um bar, André Luiz Ribeiro, 27 anos, foi acorrentado e espancado por uma multidão. O dono do estabelecimento é apontado como um dos agressores. A violência só parou quando uma equipe do Corpo de Bombeiros que passava pelo local interferiu e um dos bombeiros pediu que a vítima comprovasse que era professor falando sobre a Revolução Francesa. Machucado e humilhado, Ribeiro deu uma aula, no meio da rua, sobre o movimento que explodiu no final do século 18, na época em que a França era governada por uma monarquia absolutista.  
     O professor de uma escola pública paulista falou para os seus carrascos e para os bombeiros sobre o cenário de insatisfação que tomou conta do país governado pelo rei Luís 16, lembrou que a Corte era abastecida com privilégios e festas enquanto parte da população passava fome. Explicou, ainda, os ideais iluministas de igualdade, liberdade e fraternidade. Ideais que não foram considerados no momento em que o rapaz acabou detido e ficou preso por dois dias, mesmo sem provas de participação no assalto. A única  acusação veio do dono do bar, que o teria reconhecido.
   Ribeiro contou que os agressores não quiseram ouvi-lo e ignoraram os pedidos de socorro. Casos como esse, infelizmente, começam a se multiplicar no Brasil, com relatos de pessoas tentando fazer justiça com as próprias mãos e, na maioria das vezes, isso acaba muito mal. Basta lembrar o  caso da dona de casa do litoral paulista que foi confundida com uma seqüestradora  de crianças e acabou morta por uma multidão ensandecida.  

       Essas ocorrências demonstram a falta de confiança da população para com os aparelhos do Estado  responsáveis pela segurança pública. Mas nada justifica uma volta à barbárie. Independentemente se comprovado o envolvimento do professor com o assalto, os agressores têm que responder à  Justiça por tentativa de homicídio. A humanidade evoluiu e não aceita mais julgamentos do tipo “dente por dente, olho por olho”. Quanto aos bombeiros, embora eles tenham evitado um linchamento, será difícil convencer de que não foi deboche o pedido para  que o professor ferido desse uma aula sobre a Revolução Francesa.    ( Extraído do jornal FOLHA DE LONDRINA, COM PUBLICAÇÃO NO ESPAÇO OPINIÃO, opinião@folhadelondrina.com.br, quinta-feira, 3 de julho de 2014 ).

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