Minha mãe quando era pequena tinha o maior medo do fim do mundo.
Eram os anos da Segunda Guerra Mundial e ela morava no sítio. Devia ter uns oito ou nove anos de idade.
Meu avô materno era um desses sitiantes que tinham vindo desbravar o norte do Paraná. Moravam na região de Londrina, num pequeno sítio, desses que a Cia de Terras Norte do Paraná loteava para pequenos agricultores.
Com a guerra em curso qualquer notícia era novidade. Principalmente quando eram convocados os brasileiros. Os pais viviam com o coração na mão com medo que os filhos fossem chamados pelo governo para lutar na Europa. Os jornais demoravam para vir e todo mundo queria saber o que estava acontecendo. Rádio era raridade, e pra gente bem de vida.
Chegava lá no sítio um compadre de meu avô fazendo o maior estardalhaço:
- É o fim do mundo, Juliano. É a guerra.
Minha mãe corria de medo na saia de minha avó.
E o compadre trazia debaixo do braço um jornal já atrasado com as últimas notícias da Europa em guerra.
- Que barbaridade!
E lá iam os comentários. A coisa descambava para o lado do armagedom e o fim do mundo. As profecias se realizando e até Nostradamus entrava no meio da conversa.
- É o fim do mundo, Juliano.
Quando o compadre ia embora meu avô dizia rindo:
- Esse compadre... o mundo acaba pra quem morre.
E voltava aos seus afazeres depois da nobre visita.
Minha mãe com o coração batendo a mil por hora saía da saia de minha avó e ia se certificar se o homem havia mesmo ido embora.
Hoje minha mãe diz pra mim:
- Eu tinha pavor só de ver aquele homem chegando. Já sabia o que ele ia dizer: É o fim do mundo, Juliano”. E vinha com o jornal debaixo do braço trazendo com satisfação as últimas notícias ultramarinas de seu armagedom particular.
Era o fim do mundo mesmo. ( DAILTON MARTINS, comerciante em Londrina, página 3, caderno FOLHA 2, espaço CRÔNICA, quarta-feira, 30 de março de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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