Texto escrito por Sylvio do Amaral Schreiner, psicanalista em Londrina, publicado em data de hoje, 28 de outubro de 2019 pelo jornal FOLHA DE LONDRINA.
Muitas pessoas estranham que em países desenvolvidos, como por exemplo a Suécia, Dinamarca e Noruega, exista um alto número de pessoas sofrendo de depressão, quando se imagina que este deveria ser quase que exclusivamente um problema de saúde mental dos países menos desenvolvidos. Não que em países com um Estado de bem-estar sofrível não havia pessoas com depressão (há muitas e muito trabalho a ser feito para diminuir esses números), mas o que surpreende é que países que contam com uma infraestrutura de segurança, trabalho, educação, saúde e muitos outros pontos importantes para gerar uma vida digna registrem um alto número de pessoas depressivas. O que pode explicar?
Primeiro, é um engano acreditar que só a pobreza produz depressão. Ela pode, sim, ser um dos fatores que contribuem, porém, não é o único. Caímos num certo preconceito quando pensamos que se um país é rico e oferece oportunidades para seus habitantes não teriam motivos para a depressão. A verdade é que a depressão surge em todos os lugares, ricos ou pobres, bem como em todas as classes sociais e entre pessoas de qualquer nível educacional. A depressão está ligada à mente e não tão somente aos índices sociais.
É evidente que a carência e o desespero pelo qual passam muitas pessoas em países pobres são gatilhos que podem levar a uma depressão. Contudo, qual seria o gatilho nos países ricos? O que levaria um cidadão do primeiro mundo, que tem de tudo, aparentemente, a sofrer de depressão?
Bom, ter de tudo materialmente não deixa ninguém imune aos processos mentais. Traz conforto e segurança, com certeza, e isso é um ganho importante, mas não torna ninguém livre de sofrer internamente. Ter tudo externamente, aliás, pode camuflar uma pobreza interna, de sentidos. Aí reside o perigo. Uma pessoa que parece que tem tudo pode estar sofrendo terrivelmente por haver internamente uma pobreza muito grande e nem perceber isto.
Nem sempre o mundo interno está andando no mesmo passo que o mundo externo. Há pessoas que conseguem de tudo materialmente, ficam ricas, possuem mansões, carros, roupas de grife e viagens espetaculares, mas internamente não contam com um desenvolvimento. Ficam, por dentro, pobres, esvaziadas e nem sabem como usufruir das coisas boas da vida. A riqueza e desenvolvimento ficaram localizados apenas na dimensão externa, enquanto a interna não recebeu nada que fizesse alguém realmente crescer.
Muitos países e pessoas já andaram até metade do caminho, mas falta desenvolver a outra metade: a mente, que determina como vamos viver, se vamos ou não achar graça na vida, como serão nossos relacionamentos e nossos atos. Precisamos aprender a ser humanos e trabalhar a própria mente é o único meio para isso acontecer. O desenvolvimento externo e interno precisam caminhar juntos, tais como duas pernas que nos carregam para onde desejamos e precisamos ir. Enquanto isso não foi devidamente compreendido sempre ficaremos capengas. (FONTE: Texto escrito por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, pesicanalista em Londrina, página 8, Folha Saúde, saúde@folhadelondrina.com.br, coluna MUNDO VIVO, segunda-feira, 28 de outubro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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