Transcrição do Editorial do jornal FOLHA DE LONDRINA do dia 08 de outubro de 2019
Em agosto, os brasileiros pagaram 6,65% de juros, o que equivale a 116% ao ano. A média, calculada pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), leva em conta as taxas que os consumidores pagam no comércio, nos cartões de crédito, cheque especial, na compra de automóveis e em empréstimos pessoais.
Em qual outro país do mundo, os cidadãos pagam 227,26% ao ano. Esse lugar não existe. Esse patamar de juros é uma anomia econômica tipicamente brasileira.
O Banco Mundial calcula que o spread – diferença entre os custos que os bancos têm ao pagar o dinheiro e a taxa que eles cobram para emprestar para os clientes – no Brasil é o segundo mais alto do mundo. São praticamente 40% contra 45% de Madagascar.
A diferença para qualquer outro país é enorme. Na Argentina, por exemplo, são 6,9% ao ano. N Rússia, 5,6%. Na quase totalidade das nações, o spread não chega a dois dígitos.
E as medidas tomadas pelo Copom (Comitê de Política Monetária) desde outubro de 2016 não surtem o efeito desejado. A meta Selic caiu 61%, mas, conforme mostrou a FOLHA na edição de segunda-feira (7) a média dos juros para pessoa física caiu teve uma redução de apenas 26% no período. Para as empresas, a queda foi proporcionalmente maior: 36%. Mas longe da taxa básica.
Os bancos alegam que a inadimplência é maior no Brasil e, por isso, os juros também. Mas essa justificativa não é majoritariamente aceita pelos agentes econômicos. A Fiesp – associação que representa a indústria paulista – sustenta que, na Itália, por exemplo, h´uma inadimplência três vezes maior que a brasileira e um spread oito vezes menor.
Grécia, Bulgária, Romênia, Portugal, Hungria, Rússia, Espanha e Índia, também teriam mais inadimplência e menos juros, de acordo com a entidade.
O mercado espera que, ao fim de 2019 a taxa básica de juros terá caído de 5,50% para 4,75% ao ano. Descontando uma inflação oficial de 3,40%, teríamos um juro real aproximado e 1,30% . Resta aos bancos se adequarem a esse novo cenário.
Não é possível que o Brasil seja considerado o país dos maus pagadores para justificar taxas estratosféricas como as atuais. Sem juros civilizados, nunca teremos um ciclo de desenvolvimento expressivo e sustentável.
A FOLHA é produzida diariamente pensando em seus leitores. Obrigado pela preferência! (FONTE). Editorial do jornal FOLHA DE LONDRINA, página 2, opiniao@folhadelondrina.com.br segunda-feira, 08 de outubro de 2019)..
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