Se o desejo de se ver livre for verdadeiro encontra-se um caminho para a liberdade
Transcrição do texto escrito pelo psicanalista Sylvio do Amaral Schreiner, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA
“Conhece-te a ti mesmo”
Essa famosa frase inscrita no Oráculo de Delfos, na Grécia, e usada por muitos sábios, continua atual e necessária; ela não saiu de moda. A importância de se conhecer é que quem não se conhece fica presa aos impulsos inconscientes e acaba sempre se repetindo. São aqueles indivíduos que estão sempre na mesma, estão sempre acorrentados a hábitos, situações e pessoas que gostariam de se ver livres e que trazem muito sofrimento.
Quem nunca ouviu falar da história daquela garota bonita e inteligente, mas que só se relaciona com homens sem-vergonha, que sempre a enganam? Ou daquele rapaz esperto e cheio de possibilidades, mas que perde a compostura e a razão quando se embebeda todo fim de semana, levando-o a fazer muitas besteiras? E muitos outros casos de pessoas que não conseguem mudar que ficam se repetindo e sempre na pior? Na maioria das vezes essas pessoas estão sofrendo, e muito. No entanto, continuam a sustentar o mesmo padrão de reações para a vida: se repetem e se empobrecem. Ficam fixadas num ciclo sem fim.
Todos esse comportamentos têm uma origem que pode ser encontrado na mente. Eles não aparecem do nada. Porém, para poder modifica-los é necessário adentrar à mente e pagar o preço por se conhecer. Não é um processo fácil. Exige paciência e persistência de cada um para vir a conhecer e aceitar suas próprias verdades. O que mais existe são pessoas que procuram se evadir de suas verdades, se apegando a racionalizações ou outras falsificações. Ou seja, em vez de ir em busca do conhecimento de si terminam por justificar por qualquer coisa e argumento a própria vida.
A questão é que essas pessoas que se enganam continuam a desconhecer a fonte de seus problemas e, por isso, estes permanecem sempre os mesmos. Aí vem a angústia e o desespero e lamentam terem um carma difícil e pesado. Até acho que essa história de carma existe mesmo, não é só história de misticismo barato. Apenas é um outro nome para o nosso inconsciente, que dirige nossas ações e nos tornam fantoches doso impulsos.
Para asir deste ciclo de repetições só mesmo usando a mente, que, alias, é o melhor recurso de que podem dispor na vida. A psicoterapia vem para ajudar a mente num trabalho de construção e elaboração. Para questionar por que estas repetições têm sempre que acontecer. Para vislumbrar alternativas de como viver de maneira diferente. Para pensar de verdade. Abrem-se possibilidades que antes não haviam sido cogitadas. Tudo isso é permitido pela psicoterapia para aqueles que ousam se aventurar e desbravar um novo continente: o próprio inconsciente.
Todo mundo, em menor ou maior intensidade, está preso à repetição. Só que se o desejo de se ver livre for verdadeiro encontra-se um caminho para a liberdade. (FONTE). Texto escrito por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, mundovivo@jornaldelondrina.com.br, psicanalista em Londrina, publicado na coluna MUNDO VIVO, página 8, segunda-feira, 14 de outubro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA.
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