SOL POENTE visto da varanda da frente. Três caules de
pata-de-elefante estão com pendões florais. Perto há outra touceira macha, que
não flore, só fomos saber disso quando a fêmea floriu e o jardineiro contou que
há patas-de-elefante machas e fêmeas. Vivendo e aprendendo, ou florescendo.
REBROTOU poncanzeira que morreu talvez de broca, ressecou,
cortamos, queimamos. E eis que um pezinho brotou do tronco decepado, as
folhinhas verdíssimamente reluzentes. Adubamos com esterco curtido em cinza,
protegemos com tijolos, batizamos de Aleluia.
CARAMUJOS continuam infestando a chácara, já catamos
milhares. Vamos catando, botando em balde com cal, daí enterramos, antes
quebrando com pá as carapaças dos bichos, senão elas duram anos para decompor
no solo. Uma trabalheira, que se tornou uma obsessão, que virou diversão. Outro
dia Pietro ligou lá dos Estados Unidos:- Vô e vó, tô com saudade de catar
caramujo com vocês! – de modo que agora catamos caramujos lembrando do neto
longe. É a chácara globalizada.
ANO NOVO, aquela barulheira
de fogos, Bravo fica muito estressado. Cola na gente, andando nos nossos
calcanhares, tropeçamos nele, acariciamos, dizendo calma, Bravo, calma, é só
gente que gosta de barulho, ao contrário de você, que tem bom gosto. Nem comeu
na passagem do ano, não tocou na vasilha
resfolegando assustado. No dia seguinte, coloquei a comida, ele começou a
comer, estourou um rojão longe, ele parou de comer, me lançou um olhar sofrido
e perguntante: porque?
Sei lá porque, Bravo, tem gente assim, que prefere gastar com barulho o
dinheiro que podia comprar uma boa comida, uma bebida boa. Pior, meu amigo, é o
Dia de Nossa Senhora da Aparecida, quando ao meio-dia soltam baterias de
rojões, lembra? Uma barulheira infernal, um louvor a uma santa que foi achada
no fundo de um rio , no completo silêncio portanto...
MAIS UM ANO com poucas mangas. O que está acontecendo com as
mangueiras ? Então valorizamos as poucas mangas colocando fatias na salada, que
também fica muito boa com maçã-verde ou kiwi em pedacinhos, além de nozes e/castanhas meio trituradas. Na passagem do ano, foi o que Dalva e eu
comemos, com salmão assado, um casal em casa, brindando à lua, sem música, sem
cantoria, sem contagem regressiva , apenas juntos e em paz. Depois botamos tampões
nos ouvidos e fomos dormir, para amanhecer renascendo cedinho.
PASSARINHA fez ninho de barro e palha no alto de uma pequena
bananeira, à altura de nossa vista. Basta ficar na ponta dos pés para ver os
cinco ovinhos. Ela sempre voa quando chegamos perto da bananeira, e fica
cantando ou ralhando nas árvores em redor. Olhamos rapidinho e deixamos o ninho
em paz, ela logo volta, vemos de longe com os binóculos. É o ninho mais bem
feito até hoje na chácara, superando a sacolinha de palha trançada dos anambés
ou o pequeni-ninho pingente dos beija-flores.
POENINHO : Tomara que os cinco ovinhos/virem aves em cantata/ na
matutina sonata/ ou concerto vespertino.
( Texto do escritor DOMINGOS PELLEGRINI d.pellegrini@sercomtel.com.br publicado no JORNAL DE LONDRINA, pag. 18, domingo,
4 de Janeiro de 2015).
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