Em 2015 vou sobreviver ensolarada,
deixando para trás as sombras de 2014 que acabei de trancar no porão de um
navio. O ano se foi com as sombras desfolhadas, os rios sem peixes, a terra sem
chuva, os amigos que perderam filhos, o que perdi em mim mesma, ainda que tenha
sido só um pouquinho a cada dia. Casas e pessoas desmancham-se em doses
homeopáticas.
O que teria sido o ano sem os livros de Manoel de Barros depois de sua partida, com a poesia nacional suspensa na UTI.
O que teria sido do ano sem o seu abraço, sem aquele filme em que fomos protagonistas, nouvelle vague paulistana, na estação do metrô.
O que teria sido do ano sem aquela noite na Praça Roosevelt, onde revi as cenas de Walter Hugo Khoury pela narrativa de seus olhos.
O que teria sido o ano sem os recitais de poesias e a audição solitária de música depois da meia-noite, além das operas fervilhantes que vi no teatro onde orquestras desafinam antes da hora, acostumando nossos ouvidos à dissonância.
O que teria sido do ano sem meus filhos aparecendo e desaparecendo como cometas, deixando aqui em casa a rota circular de seus afetos. Descobri assim que o amor é redondo como o mundo.
O que teria sido do ano se fosse apenas um período eleitoral em que causamos mágoas uns aos outros, brigando por siglas que se misturam e ideologias falidas
O que teria sido o ano sem os livros de Manoel de Barros depois de sua partida, com a poesia nacional suspensa na UTI.
O que teria sido do ano sem o seu abraço, sem aquele filme em que fomos protagonistas, nouvelle vague paulistana, na estação do metrô.
O que teria sido do ano sem aquela noite na Praça Roosevelt, onde revi as cenas de Walter Hugo Khoury pela narrativa de seus olhos.
O que teria sido o ano sem os recitais de poesias e a audição solitária de música depois da meia-noite, além das operas fervilhantes que vi no teatro onde orquestras desafinam antes da hora, acostumando nossos ouvidos à dissonância.
O que teria sido do ano sem meus filhos aparecendo e desaparecendo como cometas, deixando aqui em casa a rota circular de seus afetos. Descobri assim que o amor é redondo como o mundo.
O que teria sido do ano se fosse apenas um período eleitoral em que causamos mágoas uns aos outros, brigando por siglas que se misturam e ideologias falidas
O que teria sido do ano se restasse apenas
o noticiário falando de crianças que
morreram esquecidas nos carros, presas aos cintos da insolação.
O que teria sido do ano se computássemos perdas sem nenhum ganho, embora as conquistas, mais que um prêmio, sejam às vezes uma questão de malabarismo emocional. Somos todos equilibristas
O que teria sido do ano se computássemos perdas sem nenhum ganho, embora as conquistas, mais que um prêmio, sejam às vezes uma questão de malabarismo emocional. Somos todos equilibristas
O que teria sido do ano se a
gente não acreditasse que o tempo se renova e que o calendário só existe
para que a gente enxergue o futuro.
Agora, 2014 partiu.
Em 2015
quero as açucenas, fazer as pazes com as formigas, viver numa floresta
de prodígios, passar de mulher a borboleta, de pedra a musgo, de aranha a
veludo, de gaiola a passarinho, de pessoa física à física quântica, só para
experimentar o vôo e a maciez do tempo.
Não caber em mim não é problema de falta de limites. É a solução de quem transborda.
No fundo, em 2015 quero mesmo é ser poeta, o resto me inviabiliza.
Não caber em mim não é problema de falta de limites. É a solução de quem transborda.
No fundo, em 2015 quero mesmo é ser poeta, o resto me inviabiliza.
Façam também seus pedidos e Feliz Ano Novo
para todos. ( Texto de CÉLIA MUSILLI, celiamusilli@te3rra.com.br publicado na Folha 2, pag 4, do jornal FOLHA DE LONDRINA, domingo, 4 de janeiro de
2015).
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