Nos idos da década
de 1970 a cafeicultura familiar passava por dificuldades em razão das geadas que assolaram o Norte paranaense.
Meus pais, agricultores e de pouca leitura
, labutavam com nosso pequeno sítio. Seus
sonhos eram de ter um filho “doutor” e eu fui o escolhido para realizar esse
sonho. Fui para a cidade para fazer o colégio Científico, cursinho e prestar
vestibular. Muitas noites lembrava com
aperto no coração e lágrimas corriam no
meu rosto ao lembrar que meus pais trabalhavam duro enquanto eu estudava.
Certa época, meus pai comprou uma kombi e para ajudar nas despesas organizava Romarias para Aparecida do Norte. Meus pais, italianos, muitos fervorosos e tinham muita devoção por Nossa Senhora de Aparecida. Lembro-me que muitas vezes, nas minhas férias ou mesmo nos feriados prolongados , meu pai organizava romarias na Kombi e eu era escalado, como motorista, para ir. Na época tinha pouco mais de vinte anos, saíamos ao entardecer, da frente da igrejinha da nossa vila, e viajávamos durante toda a noite chegando ao amanhecer em Aparecida. Nos dias que antecediam a viagem , as senhoras e as moças se preparavam, fazendo as unhas. “permanente” nos cabelos, muitas andavam o dia todo de “bobi” , compravam sapatos novos que em muitos casos chegavam a fazer bolhas nos pés de tanto andar nos morros de Aparecida.
A viagem muita longa, mais de 700 quilômetros, tinha uma coisa mística, pois não cansava. Durante todo o percurso os romeiros iam cantando hinos, rezando terços. Parávamos nos postos e ali era um verdadeiro piquenique, pois levavam alimentos, bebidas e a alegria eram imensas. Muita fé em todos! Emocionante era nossa chegada em Aparecida, muitos chorava, outros cantavam. Como era gratificante.
Eu os levava a uma pensão e após o banho e o café matinal, seguiam para a igreja. Tinham senhoras que assistiam várias missas no período. Depois, compravam as encomendas, santinhos, medalhinhas, terços, relógios, guarda-chuva, ou seja, muitas lembrancinhas para os que ficavam. Eu ficava na pensão dormindo durante todo o dia, pois ao anoitecer tinha que enfrentar centenas de quilômetros no retorno.
A partida era de novas emoções, choros, orações, hinos. Dona Zefina , uma senhora gorda, e seu esposo eram passageiros freqüentes e ao voltar já iam falando para colocar seus nomes na próxima romaria, na qual levavam sempre um de seus vários filhos.
A Creuza, esposa do Pedrão, brigava o tempo todo com ele, pois era chegadinho em uma “birita” e já na saída tomava um gole “para agüentar o baque”, como ele dizia. A Creuza sem pre me cobrava um remédio para fazer o Pedrão deixar de beber. Seu Ijarras, um sergipano, todas as vezes que ia tinha de comprar uma vela do seu tamanho e entrar na Basílica de joelhos. Eram muitas promessas a serem pagas.
Ah! Em Aparecida os romeiros compravam muitos rojões e na chegada parávamos na entrada do vilarejo e a saraivada dos fogos de artifício acordava toda a vila, que imediatamente ia para a frente da igreja para nos receber. Que alegria! ( Texto escrito por SIDNEY GIROTTO, médico em Londrina. Texto extraído do espaço Dedo de Prosa, pag 2, da FOLHA RURAL, publicado pelo jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 17 de janeiro de 2015).
Certa época, meus pai comprou uma kombi e para ajudar nas despesas organizava Romarias para Aparecida do Norte. Meus pais, italianos, muitos fervorosos e tinham muita devoção por Nossa Senhora de Aparecida. Lembro-me que muitas vezes, nas minhas férias ou mesmo nos feriados prolongados , meu pai organizava romarias na Kombi e eu era escalado, como motorista, para ir. Na época tinha pouco mais de vinte anos, saíamos ao entardecer, da frente da igrejinha da nossa vila, e viajávamos durante toda a noite chegando ao amanhecer em Aparecida. Nos dias que antecediam a viagem , as senhoras e as moças se preparavam, fazendo as unhas. “permanente” nos cabelos, muitas andavam o dia todo de “bobi” , compravam sapatos novos que em muitos casos chegavam a fazer bolhas nos pés de tanto andar nos morros de Aparecida.
A viagem muita longa, mais de 700 quilômetros, tinha uma coisa mística, pois não cansava. Durante todo o percurso os romeiros iam cantando hinos, rezando terços. Parávamos nos postos e ali era um verdadeiro piquenique, pois levavam alimentos, bebidas e a alegria eram imensas. Muita fé em todos! Emocionante era nossa chegada em Aparecida, muitos chorava, outros cantavam. Como era gratificante.
Eu os levava a uma pensão e após o banho e o café matinal, seguiam para a igreja. Tinham senhoras que assistiam várias missas no período. Depois, compravam as encomendas, santinhos, medalhinhas, terços, relógios, guarda-chuva, ou seja, muitas lembrancinhas para os que ficavam. Eu ficava na pensão dormindo durante todo o dia, pois ao anoitecer tinha que enfrentar centenas de quilômetros no retorno.
A partida era de novas emoções, choros, orações, hinos. Dona Zefina , uma senhora gorda, e seu esposo eram passageiros freqüentes e ao voltar já iam falando para colocar seus nomes na próxima romaria, na qual levavam sempre um de seus vários filhos.
A Creuza, esposa do Pedrão, brigava o tempo todo com ele, pois era chegadinho em uma “birita” e já na saída tomava um gole “para agüentar o baque”, como ele dizia. A Creuza sem pre me cobrava um remédio para fazer o Pedrão deixar de beber. Seu Ijarras, um sergipano, todas as vezes que ia tinha de comprar uma vela do seu tamanho e entrar na Basílica de joelhos. Eram muitas promessas a serem pagas.
Ah! Em Aparecida os romeiros compravam muitos rojões e na chegada parávamos na entrada do vilarejo e a saraivada dos fogos de artifício acordava toda a vila, que imediatamente ia para a frente da igreja para nos receber. Que alegria! ( Texto escrito por SIDNEY GIROTTO, médico em Londrina. Texto extraído do espaço Dedo de Prosa, pag 2, da FOLHA RURAL, publicado pelo jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 17 de janeiro de 2015).
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