Eu e minha irmã crescemos dentro de apartamento. De vez em quando descíamos para brincar com a criançada do prédio, mas
eu, pelo menos, fiquei muito tempo em frente a TV quando era pequena.
Minha alegria era passar os fins de semana
na casa da avó, que morava na rua de trás. Lá fazia do varal uma rede para
jogar vôlei com os primos, balançava na rede debaixo do barracão escutando a
chuva cair, ouvia a vó cantar “mamãe polenta” para a gente correr e o lencinho
na mão passa de neto a neto na roda. No mês de festa junina, subíamos no
telhado para ver os balões no céu e cantávamos cantigas antigas, com a vó
puxando o coro. E foi naquele quintal que comemoramos nossa primeira comunhão,
quando a rua da casa da vó era ainda de terra. Naquela época, os aniversários
tinham lanche de carne louca e o bolo
era branco com recheio de ameixa e cobertura de chantili e coco ralado e sempre
tina uma rosa como enfeite
Naquele quintal tinha planta de todo jeito, porque a vó adora
um vasinho. Tinha até uma jaqueira e uma laranjeira, que foram cortadas porque
eram muito altas e invadiam o quintal do
vizinho. As rosas do jardim da frente da
casa eram tão cobiçadas por quem passava na rua, que vira e mexe um ou outro
passava a mão pelas grades do portão
para surrupíar uma flor. A vó tinha
orgulho do roseiral e eu tenho orgulho de ter uma vó como ela.
Pois ua paixão pelo verde – até hoje ela
cultiva plantinhas em pequenos vasos e presenteia as filhas, netas, sobrinhas,
amigas com samambaias lindamente frondosas – passou para a segunda neta, minha irmã, que hoje é
bióloga.
Casada com um biólogo, eles decidiram que
precisariam viver numa casa com um quintal grande. Não importava se a casa
tinha um único quarto, se a sala e a cozinha eram um cômodo só, se as visitas
teriam de dormir no sofá-cama. O importante era ter terra suficiente para eles
cultivarem o máximo de plantas possível.
E não é que deu certo. O pequeno refúgio
do casal tem de tudo: de mamão a tomate, de manjericão a maracujá, de plantas ornamentais
a lavanda. E tem o gato branco que se esconde no meio do mato que preserva a umidade das mudas.
Ela me contou que quando viu o terreno, o marido decidiu que faria
dele o “jardim da vovó”, que parece bagunçado à primeira vista, pelo tanto de
planta que aglutina, mas que oferece um pouco de tudo que é preciso para confortar, como boldo e hortelã, por exemplo
Do gramado abandonado à pequena “ floresta” que se transformou a casa da irmã,
pude perceber o quanto a natureza sabe ser generosa com quem lhe dá carinho.
Ainda que sejam pequenos quintais floridos no meio da cidade grande. ( Texto escrito por MARIANA GUERIN,
jornalista da FOLHA, extraída do espaço dedo
de prosa, pag 2, da FOLHA RURAL, publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, sábado, 13 de dezembro de 201
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