O meu Natal do tempo de criança. Lá pelos
anos de 1960, era bem diferente do Natal
das crianças de hoje, mas tinha um encanto especial, do qual tenho umas
lembranças muito boas.
Uma delas era o presépio montado na
igreja, simples, com uma graminha de alpiste previamente semeado para estar
bonita e verdinha nesses dias, um laguinho feito com espelho e pó de serra em
volta, animaizinhos, a família de Nazaré no centro, a estrela e os
interessantes reis magos Belchior,
Baltasar e Gaspar.
A missa do Galo era um grande mistério e
eu nunca conseguia assisti-la. Dormia antes, sonhando e imaginando um galo
enorme, penas coloridas, vestido de padre e todo paramentado para o Natal.
Acabava a missa e ele ia embora, batendo as asas e voando para o céu. Em parte
essa fantasia se devia a uma música cantada todos os anos por uma dupla de japonesinhas nas
apresentações do salão da igreja. A música dizia que “por ser dorminhoca você
nunca há de ver a missa de uma galinha
choca, quem dirá a de uma padre... galo”!
A missa acontecia nas “vésperas” do Natal,
à meia-noite, como contava a minha avó
Luísa, incentivando a nossa fé ingênua e a nossa imaginação fértil. Como toda
criança que brinca muito, ansiosa pela festa do Natal, ia dormir cedo, pensando
e sonhando com o dia seguinte: esse sim, era o dia!
A manhã do Natal era a mais esperada do ano todo. Se vocês pensaram que era pelo
presente, enganaram-se. Esse costume eu conheci mais tarde e não tinha tamanha
importância.
Eu, meus
irmãos e primos levantávamos mais cedo e ganhávamos, cada um, uma
garrafinha de guaraná , recipiente de vidro, com um “pescocinho” torneado, e, é claro, apenas fresquinha, pois
não havia geladeira em casa. Ficávamos contemplando a garrafinha na mão,
sentindo por antecipação o prazer de saboreá-la no almoço, especialíssimo,
quando minha avó fazia macarrão caseiro com molho de tomate salpicado com
queijo ralado e pastéis de carne com
azeitonas. Um frango assado e recheado com farofa completava o cardápio de
Natal. Após o almoço, doces caseiros. Quanto á garrafinha de guaraná, estava
ainda mais quente, alguns não agüentavam
esperar e abriam antes, enchendo a barriga de líquido, sob os protestos
das mães: não falei para não tomar antes? Agora não vai comer direito...
Aí a gente sentava para saborear aquela
ceia maravilhosa, diferente, que acontecia uma v ez por ano, regada, com o já
disse, a guaraná de garrafinha. Dávamos altas gargalhadas com meu avô Mário
que, como bom italiano, não
dispensava o vinho tinto de
garrafão e as piadas. Era assim que a gente comemorava, com alegria e
simplicidade, o nascimento do menino Jesus.
( Texto escrito por ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, espaço DEDO
DE PROSA, Folha Rural pag 2, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA,
sábado 20 de Dezembro de 2014),
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