Sei que o modo de vida, os costumes e os
valores eram diferentes, sobretudo para quem morava em zona rural ou cidades
pequenas. Nesses lugares, havia um certo encantamento na época natalina, a religiosidade era forte e a mágica presença do Papai Noel com
seu saco de brinquedos não era o ponto
principal. Para mim, os momentos importantes
eram a ceia com a família, o envelope com
dez reais que ganhava do avô e o caminhãozinho de madeira feito pelo meu pai.
Mas meu principal presente, e também dos meus irmãos, era sem dúvida a montagem do presépio. A árvore começava a ser enfeitada no dia 30 de novembro e ia sendo aprimorada com
detalhes a cada dia, como uma preparação para a noite feliz. Os avós diziam que na Europa fazia frio nessa época e que o pinheiro era a
única árvore que não perdia as folhas, simbolizando a vida. Na primeira semana
de dezembro a nona dava o sinal para a montagem do presépio, retirando do armário as estrelas, enfeites,
anjos, pastores, músicos, camponeses e animais
Dado o sinal, íamos felizes para o mato procurar
um pinheirinho e recolher barba de bode e musgo nas árvores, além de ornamentos
como argila, pedras, sementes e
folhas. Assim, envolvidos na natureza, fazíamos
um curral com sabugos sem saber que a palavra
presépio significava exatamente isso: curral, manjedoura
Com um espelhinho formávamos um lago e com pó de café, arroz e cascas
de ovos construíamos os caminhos que levavam à gruta, feito de um porongo aberto na frente, onde as figuras de Maria,
José e o menino eram colocadas depois de algum tempo, quando o presépio
começava a tomar forma. No dia de Natal, os vizinhos vinham admirar nosso
presépio e nós íamos ver os das outras
casas, atrás de idéias para fazer algo
mais bonito para o próximo an
Seguindo a tradição católica, o presépio
era desmontado no dia 6 de janeiro, data
em que os reis magos foram reverenciar o menino Jesus. Em seguida, minha mãe encaixotava os enfeites
e guardava no armário. Estas lembranças
continuam existindo dentro de mim e com
elas aprendo que a alegria do Natal não está no conteúdo dos pacotes ao pé da árvore, mas na espera
e na imaginação em reviver a
história do nascimento de Jesus. ( Texto
de GERSON ANTONIO MELATTI, leitor da Folha, extraído do , suplemento FOLHA
RURAL , espaço DEDO DE PROSA, publicação
da FOLHA DE LONDRINA, sábado, 6 de
dezembro de 2014).
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