Em seu
livro “Ética a Nicômaco”, Aristóteles diferencia o agir na ignorância do agir
por ignorância. Segundo o texto, uma pessoa que age por ignorância, age sem ter
conhecimento das conseqüências de seus
atos e, muitas vezes, age sem mesmo saber o que lhe motiva as ações. Já o agir
na ignorância, é compreendido como algo proposital, uma ação da qual a pessoa
tinha consciência das possíveis conseqüências
de seus atos.
Por exemplo, Londrina já foi um grande polo
cafeeiro. Imaginemos um trabalhador rural contratado para borrifar pesticida no cafezal.
Os pesticidas são tóxicos, no entanto, muitas vezes, o trabalhador não tem essa
informação. Assim, o trabalhador rural (se não souber dos riscos dos
pesticidas) age por ignorância, pois não tem conhecimento daquilo que faz e
suas possíveis conseqüências.
Já no caso do proprietário que contratou o
trabalhador para borrifar o pesticida, é provável que ele conheça os danos que os pesticidas fazem à saúde
humana e ao meio ambiente. Se ele escolhe utilizar o produto sem oferecer proteção
adequada aos funcionários, age na ignorância, pois conhece os riscos envolvidos
e, mesmo assim, escolheu fazê-lo.
Nos últimos dias, nortistas e nordestinos
vêm sofrendo uma onda de ataques xenofóbicos, principalmente da população do
Sul do País e dos paulistas. Pois bem, é de se questionar: esses xenófobos agem por ignorância ou na ignorância?
Nesses
casos, acredito que a maioria das
pessoas age tanto na ignorância quanto por ignorância.
Por ignorância porque desconhecem a
própria realidade de seu país. Desconhecem as condições de vida da população
nortista e nordestina. Não conhecem a importância dos programas governamentais para oferecer o mínimo de condições dignas
para aquelas pessoas. Assim, agem por ignorância, pois seus ódios não são
apoiados em fatos reais. Ao mesmo tempo, agem na ignorância por saberem que
seus atos, seus preconceitos, podem prejudicar aquelas pessoas a quem tal ódio
é dirigido.
Porém, é difícil analisar, muitas vezes,
se a pessoa agiu por ignorância ou na
ignorância. A pessoa que transa sem usar camisinha o faz na ignorância ou por
ignorância? Quem rouba energia elétrica
ou água o faz por ignorância ou na
ignorância? Quem utiliza softwares pirateados em seu computador o faz por ignorância ou na ignorância?
Para cada situação, faz-se necessário
considerar o nível sociocultural dos envolvidos, sua escolaridade, acesso às
informações, conhecimento das conseqüências
que suas atitudes podem acarretar,
enfim, há uma quantidade grande de variáveis que precisa ser analisada. Nem
sempre é fácil concluir-se se a pessoa agiu
na ignorância ou por ignorâncias. Em questões envolvendo ética, a resposta
nunca é preta ou branca, há uma infinidade de matizes de cinza que precisam sem
analisados. ( Texto escrito por ANDERSON CHAGAS DE OLIVEIRA, geógrafo, mestre
em Saúde Pública e graduando em Psicologia pela Unopar, extraído do espaço ponto
de vista, publicado no Jornal de Londrina, quarta-feira, 5 de Novembro de
2014).
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