Todos os dias após o almoço eu
descia até a horta para beber água geladinha de uma mina que ficava perto da casa onde morávamos.
Esta mina d’água brotava em meio a uma pequena vegetação de chão arenoso. O fio
d’água corria mansa e cristalinamente até um tubo de concreto enterrado no chão
onde era armazenada.
Esta mina abastecia também um lago construído abaixo para
aproveitar este recurso divino! Depois de cheio, o lago movimentava uma pequena
bomba d’água que mandava o líquido precioso até nossa caixa distante uns bons metros acima. Que
espetáculo ver a roda d’água e a
sincronia de movimentos de suas peças bombeando água límpida para nosso
reservatório.
Bebíamos todos os dias água da mina!
Tomávamos banho com água da mina – que luxo! Neste local já tinha escondido a
minha caneca de alumínio, indispensável para apreciar esta maravilha e sentir o líquido geladinho vertendo da
terra!
No pequeno lago que se formava abaixo da
mina, criávamos gansos imperiais e marrecos. Os gansos eram lindos:
plumagem brilhante e colorida e jeito elegante de caminhar. Enchia
os olhos ver aquelas belas aves
flutuando na água – muitas delas também eram servidas como delicioso almoço aos
domingos! Uma iguaria!!
Eu cuidava da horta dos padres, afinal
grande número de seminaristas requeria uma alimentação e tanto Plantava de um
tudo: alface, couve, beterraba, nabo, rúcula, alho, pepino, cebola, acelga,
rabanete... o que ia para a nossa mesa era retirado da terra sem custo algum a
não ser nosso trabalho!
A parreira de maracujá era linda!Parecia
uma árvore de Natal quando os frutos ficavam amarelinhos e caíam ao chão. Que
bela colheita fazíamos todos os dias! Mas...
(tem sempre um mas) quando chegava na
horta para iniciar meu período de trabalho, me deparava com uma cena que me
irritava demasiadamente: algumas de
nossas aves pulavam a cerca improvisada e comiam parte da plantação de
hortaliças. O trabalho de meses era devorado em instantes pelo apetite voraz dos bichos ! Comiam principalmente as mudas novas que
deveriam ser transplantadas. Para espantá-las , gesticulava, gritava o famoso “xô”
, jogava pedaços de galhos ou até o que estava à disposição, com o intento de
vê-las longe de minha horta.
Numa dessas invasões notei que havia sempre um em especial que
parecia líder do bando de “ladrões”! Era um garnisé que um dos padres havia
ganhado de uma senhora sexagenária. Vivia
como rei entre as fêmeas e demais aves. E o que era para ser apenas uma
medida de afugentamento acabou se
tornando uma “tragédia”: Um pedaço de
tijolo arremessado a esmo foi um golpe
certeiro no galinho do padre Chico.
Pobre galináceo! Tombou desfalecido! Não
havia o que fazer! Desesperado, ao vê-lo inerte e constatando o óbito, tratei
logo de providenciar o féretro bem longe da horta com direito a cruz de madeira
e oração em latim: “ requiescant in
pace, amém”! – que Deus me perdoe por isso!!!
Até hoje padre Chico não sabe qual foi o
paradeiro de seu galinho de estimação. Sempre que ele descia na horta para ver
nosso trabalho, perguntava se havia visto o seu “penoso”. Minha voz saía meio
gaguejante e respondia que havia dias que não o via! E assim foi o triste fim
desta pobre “alma” que furtivamente comia nossas plantas! Espero que o padre
Chico, ao ler esta história, me perdoe pelo “crime”! Amém! ( Texto escrito por VALDINEI FRANCO. Leitor da FOLHA. Extraído da FOLHA
RURAL, espaço DEDO DE PROSA, publicado
na FOLHA RURAL, FOLHA DE LONDRINA, sábado, 15 de Novembro de 2014).
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