“Lave as mãos antes de sair”: o
aviso, num sanitário de Gramado,
sintetiza a limpeza e a graça duma cidade que vive do turismo e vive o
turismo
Conta lenda que tudo começou com
as hortênsias, plantadas nos jardins, nas floreiras, nas varandas, nas encostas
e até nas estradas, emoldurando uma cidade com cultura italialemã, compensando
com cremes a friagem da serra, esquentando a alma com chocolates, enchendo os
olhos com arquitetura, com comércio e serviços do melhor dos mundos. E com
artesanato autêntico, quase - quase –
sem meidinchina.
Uma dúzia de museus numa cidade
de 35 mil almas! Com dois milhões e meio
de turistas por ano, o turismo gera 90% da renda da população. Sempre tem festivais e eventos, ou, como
dizem, Gramado flore o ano inteiro. Você
compra pão artesanal aqui, feito na hora diante de você. Ali toma um fondue caprichado como que. Aqui, acoli e acolá se come em restaurantes charmosos,
passeia-se em parques que parecem tirados
da Europa, as ruas são animadas de dia e agitadas à noitinha
A vizinha Canela é irmã gêmea de
Gramado, também com talvez mais arquitetura alpina que muitas cidades dos
Alpes. O comércio é fino, da decoração ao atendimento, e as ruas são bem
cuidadas, as praças bonitas, os sanitários públicos limpinhos, e em cada esquina belos bancos de madeira esperam por conversa
Então volto a Londrina e vou ao
recém inaugurado Museu do Café, que
beleza! Quantos objetos e utensílios a cafeicultura gerou ! E, no Cine
Café do museu, que belos documentários sobre o ouro-verde! Que depoimentos
emocionantes de quem viveu do café, mais que uma cultura, uma paixão! O bazar é
uma beleza, com tantas lembranças artesanais para a gente levar, cafeteiras, louças, bules, coadores de pano
como o que coa café na hora ali no Bar Rubiácea
Mas o melhor é sentir no ar o
cheirinho de café torrado na hora, em torradeira manual sobre braseiro, depois
moído em moinho manual, os turistas fazem fila para cada um girar um pouco a
manivela. E quantas geléias e doces e licores de café, além das cervejas com
gosto de café, sorvetes e até chicletes de café
Depois saímos do Museu e já
embarcamos em ônibus direto para uma fazenda histórica da cafeicultura, com sua
sede reformada e decorada tematicamente, as casas da colônia transformadas em
chalés para pernoite, e, no terreiro onde se secava café, agora dançam catira e
cateretê, entre barracas de artesanato e comidas típicas do colonato. Porco frigindo no tacho, pão
saindo do forno de barro, doces de abóbora e goiaba borbulhando noutros tachos,
e, quando sobe a lua, começa a Folia de Reis
Lá pelas tantas bate bumbo, vai
começar o batuque, então acordo, estava sonhando no avião de volta para casa. A
comissária (era tão melhor quando eram
chamadas de aeromoças) oferecia bebidas,
diz que o café está bom, peço só ág
- Sou de Londrina, café me dá
muita lembrança. ( Texto escrito pelo escritor DOMINGOS PELLEGRINI, d.pellegrini@sercomtel.com.br publicado no JORNAL DE LONDRINA pag 17 domingo, 30 de novembro de 2014).
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