Era comum, no interior, aparecer pessoas
solitárias ou peregrinas que se instalavam na cidade e passavam a fazer parte
do cenário. Cada uma apresentava uma característica própria, geralmente
inusitada, e os moradores iam se acostumando e acolhendo aqueles indivíduos tão singulares, geralmente
inofensivo
Lembro-me da Lucinda, do Guaraci, do Caveira
... Porém um.... o Homem da Capa, me marcou mais, talvez
por ser criança, influenciada pelas histórias dos meus avós, que contavam do Saci Pererê – esta eles viram
pessoalmente dando nó nas crinas do cavalo – da Mula sem Cabeças e do Lobisomem.
O Homem da Capa usava uma capa preta, de
tecido grosso, daquelas usadas pelos tropeiros, com capuz estando frio ou
calor. Dizima que ele virava Lobisomem às sexta-feira, principalmente no tempo da
quaresma. Não importava se era mentira ou verdade, o fato é que o Homem da Capa
era o terror da criançada e acabava com qualquer roda de brincadeira.
Era só alguém gritar: óia o veio
da capa” e a molecada sumia da rua e se
enfiava mas casas. Servia até de pretexto para os pais acalmarem seus filhos e mantê-los
quietos, por algum te
O Homem da Capa tinha nome, morava na
cidade, tinha casa e tudo! Até sua mulher era diferente: branquinha, cabelos encaracolados e curtos , pretíssimos , e o
rosto empoado de Cashmere –Bouquet completando com um carmim bem vermelho
colorindo os lábios finos
Apesar do mito e do nosso medo infantil,
nunca vi nada de anormal vindo dele. A vida continuou, eu cresci, mudei--me para outra cidade, esquecendo completamente essa figura
misteriosa inventada pela nossa fantasia.
Outro dia, depois de tanto tempo, ouvi alguém dizer que o Homem da Capa havia morrido.
Num instante, meu coração se voltou para
minha infância fantástica, as brincadeiras, as lendas e superstições que foram se quebrando e desaparecendo com o
passar dos anos.
Então imaginei, com certa nostalgia, o velho
Lobisomem despedindo-se da lua cheia , numa sexta-feira da quaresma ...dando
seu último uivo! E depois, como acontece
com os humildes e puros de coração, sendo carregado, suavemente, para o céu. ( Texto escrito por ESTELA MARIA
FREDERICO FERREIRA, leitora DA folha. Extraído do especo DEDO DE PROSA, da
FOLHA RURAL, publicado no jornal FOLHA DE LONDRINA, Sábado, 29 de Novembro de
2014).
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