Texto extraído da coluna MUNDO VIVO, escrito por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER
‘Um mestre, próximo de se aposentar, precisava de um assessor. Entre seus discípulos, dois deram mostras de que eram aptos, mas para escolher entre eles o mestre lançou um desafio para colocar a sabedoria dos dois à prova. Ambos receberam alguns grãos de feijão que deveriam colocar dentro dos sapatos para então apreenderem a subida de uma grande montanha. Dia e hora marcados, começa a prova. Nos primeiros quilômetros, um dos discípulos começou a mancar. No meio da subida, parou e retirou os sapatos. Aa bolhas em seus pés sangravam, causando dor. Ficou para trás, observando seu oponente sumir de vista. Prova encerrada, todos voltam ao pé da montanha para festejar. O derrotado aproxima-se e pergunta ao vencedor como é que ele havia conseguido subir e descer com os feijões nos sapatos: - Antes de colocá-los no sapato, eu os cozinhei – foi a resposta.”
Este conto popular, cuja autoria desconheço, carrega uma verdade importante para compreendermos a nossa natureza. Com ele aprendemos como temos uma grande responsabilidade pela nossa vida. Muitas pessoas se eximem dessa responsabilidade e projetam sua felicidade ou infelicidade nos acontecimentos do mundo externo e se esquecem de dar valor ao modo como vivem. Problemas todos nós temos, mas é preciso que possamos lidar com eles de uma forma mais sábia, a fim de não ficarmos machucados.
Como lidamos com nossos problemas? Queremos de todas as formas nos livrar deles o quanto antes. Querer se livrar dos problemas é humano e compreensível, mas, infelizmente, as coisas não funcionam assim. Não se livra de um problema, mas há a chance de conseguir “cozinhá-los”, ou seja, pensar sobre eles, elaborá-los e dar eles um fim mais realista. Isso é assumir a responsabilidade pela própria vida e se tornar mais forte que os problemas. Assim, você poderá “pisar” sobre eles problemas sem se machucar.
Por isso, cultivar a mente é uma das melhores formas de ficarmos mais fortes e preparados perante os percalços da vida. Aliás, a cura na psicanálise tem a ver com isso. O verbo curar vem do latim curare que quer dizer “cuidar, dar atenção”. Então, a cura de realiza quando damos atenção à algo e passamos a cuidar desse algo. A cura não é milagrosa. Não vem do nada, de repente, mas é um processo que se dá ao passarmos a olhar com mais atenção para aquilo que nos dói. Tal como um curador de um museu. Ele é um cuidador das obras de arte. Se a gente olhar para nossa mente como um grande bem a ser cuidado podemos então passar a ser curadores de nossos recursos internos.
Que possamos todos aprender a cuidar de nossos problemas com mais acolhimento e discernimento, sem sentir a necessidade de jogá-los longe o mais depressa possível. O mais importante é aprender a lidar com ele para que fiquem “amaciados” Realizando este processo nos tornamos maduros e sempre estaremos mais preparados para vivenciar a vida com muito mais qualidade e prazer. (FONTE: Texto escrito por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicanalista em Londrina – mundovivo@folhadelondrina.com.br Folha Saúde, página 9, segunda-feira, 19 de agosto de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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