Para marcar o Dia Nacional do Livro Infantil, a FOLHA mostra alguns caminhos para estimular a leitura entre crianças
Um levantamento feito pela Associação Nacional de Livrarias mostra que o número de estabelecimentos existentes no Brasil – pouco mais de três mil em 2015 – está longe do recomendado pela Unesco (Organização das Nações Unidas pera a Educação, a Ciência e a Cultura), que é de uma livraria para cada 10 mil habitantes.
A informação foi divulgada pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) que elaborou um guia com dicas para quem pretende investir na área.
Mas para que os livros infantis girem de mãozinhas em mãozinhas, movimentando esse mercado, é fundamental criar este hábito desde os primeiros anos de vida. É como plantar uma sementinha pensando na formação de novos leitores.
Essa é uma reflexão oportuna para o Dka Nacional do Livro Infantil, celebrado em 18 de abril, já que em tempos de “brincadeiras eletrônicas” fazer com que as crianças dediquem tempo para os livros ainda é um desafio em muitos lares.
A data é uma homenagem a Monteiro Lobato e foi instituída em 2002 pela Lei 10.402 marcando o dia de nascimento do escritor. Mais da metade de suas obras foram dedicadas ao público infanto-juvenil.
Seus livros ainda são bastante procurados nas cinco lojas que Marcelo de Oliveira Basques mantém em Londrina e Curitiba. Ele atua há 21 anos no segmento de sebos e garante que há um giro muito alto nas sessões de livros infantis.
“É um crescimento tímido em torno de 5% a cada ano, mas é uma forma de perceber que há procura, especialmente por pais que se demonstram estar interessados em reduzir o uso de celulares, computadores e televisão dos filhos”, comenta o proprietário do Sebo Capricho.
Na Livraria da Vila em Londrina, onde Bárbara Lazari é coordenadora da loja, a sessão de livros infantis foi pensada justamente para atrair cada vez mais oso pequenos leitores e ela garante que isso tem dado certo. “Os livros infantis são nosso carro-chefe”.
A iluminação é direcionada, a cor do mobiliário se difere de toda a loja e os exemplares são dispostos a dar liberdade de acesso para as crianças. “A ideia é atrair a atenção deles. Tem muitas famílias que entendem que entrar na livraria faz parte do passeio”, conta.
A professora da UEL (Universidade Estadual de Londrina) Greice Ferreira da Silva, considera que o contato com os livros na infância, mesmo que a criança não seja ainda convencionalmente alfabetizada, é o encontro com a vida, com o homem e com as situações do cotidiano.
“Nesse contato, fazemos com que ela se aproxime cada vez mais desse universo e desperte a necessidade de ler, saber e conhecer. O ato de ler consiste em ensinar a criança a ter uma atitude ativa perante o enunciado, que é opinar, levantar hipóteses sobre o que vai ocorrer naquela narrativa, prever o final para a história, extrair informações”, destaca.
Silva trabalha com didática de ensino e de língua portuguesa para os anos iniciais do ensino fundamental, e ressalta que desde muito pequenos as crianças podem estabelecer uma relação com a cultura escrita através dos materiais de leitura.
“Vivemos em uma sociedade que se organiza por meio da escrita e quando apresentamos a leitura para as crianças, tendo a preocupação em escolher textos de qualidade e incentivando-as a buscarem pistas nas ilustrações e na própria narrativa ouvida, estamos ensinado as condutas de um leitor”, diz.
PONTO DE ENCONTRO
As possibilidades para promover o encontro das crianças com os livros são inúmeras, mas a docente diz que a escola é um lugar privilegiado. “Pensamos sempre na possibilidade da escola proporcionar situações de leitura para as crianças sentirem atraídas pelos livros. Para isso, vale uma seleção adequada de obras e um ‘horário nobre’ para a leitura”, propõe.
Mas aproximar as crianças do universo cultural também se faz através de visitas a museus, sebos, bibliotecas, em uma conversa com os autores e ilustradores. Além disso, Silva não desconsidera ferramentas como os e-books como suporte de leitura. “Mas a aproximação do livro físico é algo possível porque temos acervos nas escolas”, completa.
No ambiente familiar o estímulo começa ao oferecer materiais de leitura de qualidade conversando sobre algo que as crianças leram e claro, com os adultos dando sendo um exemplo.
A docente lembra que se as crianças convivem em um meio onde há livros e onde percebem o adulto lendo, isso de alguma forma vai se construindo como referência.
“Ler é produzir sentido, é uma prática cultural e que é aprendida. A gente tem que viver situações em que essa leitura efetivamente aconteça para que possamos atribuir sentido a este hábito”, conclui.
CADA LIVRO NO SEU TEMPO
Para que as crianças tenham cada vez mais vontade de ler, a escolha certa dos livros é muito importante. A docente na área de Educação da UEL(Universidade Estadual de Londrina), Greice Ferreira da Silva, recomenda que ao buscar exemplares os pais e responsáveis considerem as especificidades da vida da criança naquele momento.
“Às vezes, a narrativa pode não causar interesse na criança por ser profunda demais com o momento da infância, ou seja, não condiz com os interesses da idade. Peçam indicações para pessoas que trabalham com isso ou dos próprios professores”, sugere.
Outra dica é estar atento se as ilustrações e o texto realmente trazem uma literalidade boa em sua forma de elaboração, organização. “Pois é importante que a criança possa aprender nesse diálogo”, pontua. (M.O).
DICAS PARA QUEM PENSA EM ABRIR UMA LIVRARIA INFANTIL
LOCALIZAÇÃO: Verifique se há escolas e creches na proximidade. As crianças e pais que frequentam esses espaços são clientes potenciais.
PARCERIAS: Estabelecer parcerias com as escolas é uma excelente aposta. Converse com diretores e coordenadores pedagógicos das escolas e faça um acordo para distribuir seu material de divulgação. Uma ação importante é combinar com os estabelecimentos de ensino para que forneçam previamente a lista de livros adotados no ano letivo para que você faça a venda.
FEIRAS: Outra maneira efetiva para atrair esse público é realizar feiras de livros nas escolas – onde você leva a sua livraria ao encontro dos pais, professores, crianças e jovens.
EVENTOS: Contação de histórias, encenação de esquetes e promoção de atividades lúdicas são ações importantes para atrair o público e fidelizar os clientes pequenos ou grandes. Os pais buscam – principalmente nos finais de semana e nas férias – espaço de entretenimento e cultura onde possam levar seus filhos.
MOBILIÁRIO: É fundamental pensar em um projeto arquitetônico que preveja a existência de móveis adaptados às necessidades das crianças. Fique atento à altura das prateleira; tenha cadeiras para o tamanho dos pequenos e também espaços para leitura conjunta de pais e filhos.
VISIBILIDADE: Muitas cidades realizam feiras ou bienais do livro. Participar desses eventos é uma oportunidade importante para dar maior visibilidade à sua livraria.
ALTERNATIVAS: Na hora de construir o seu Plano de Negócios, considere a possibilidade de associar outras opções de serviço que agreguem valor à sua loja. Dependendo do espaço disponível e da localização da livraria, pode-se incluir brinquedoteca, aluguel e espaço para jogos ou comércio de brinquedos e jogos artesanais e educativos. Considere ainda a possibilidade de alugar um espaço para ser explorado por terceiros dentro da loja, como um café ou lanchonete. Fonte: Sebrae. (FONTE: MICAELA ORIKASA, Reportagem Local, FOLHA CIDADANIA, terça-feira, 18 de abril de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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