Crônica escrita por ANTÔNIO JOSÉ RODRIGUES, leitor da FOLHA, página 02 , FOLHA RURAL, coluna DEDO DE PROSA, 20 e 21 de abril, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA
No início dos anos 1960, fiquei órfão aos 4 anos de idade. Meu pai faleceu muito novo aos 41 anos, minha mãe ficou viúva com quatro filhos abaixo de sete anos e grávida de outro com sete meses de gestação. Foi uma época muito difícil. Algum tempo depois fui morar com tios que tinham um sítio, na região da Usina Três Bocas. Na época, o local era conhecido como segundo Limoeiro. Mais tarde, no início dos anos 1970, fui morar com outros tios que também tinham sítio, mas no primeiro Limoeiro.
Produtores de leite, todas as manhãs eles faziam a ordenha e entregavam para a cooperativa. Bem cedinho, quando o dia começava a clarear, meu tio me chamava para eu subir o morro e buscar algumas vacas que dormiam lá e não desciam durante a noite junto com as outras que ficavam esperando no piquete a ordenha. Na caminhada, em alguns trechos no meio do pasto o capim era bem maior do que eu e, assim, ficava todo molhado de orvalho. Nessas subidas e descidas eu avistava alguns pés de frutas como goiabas, mangas, mexericas e outras que nasciam no meio do pasto. E quando os frutos estavam maduros, eu ia colhendo e comendo pelo caminho enquanto tocava as vacas.
Algumas vezes meu tio precisava remanejar o gado para outros pastos devido ao enfraquecimento do capim. Alugava pastos de outros sitiantes, aí o nosso trabalhado era o de juntar o rebanho e tocá-lo pela estrada sem asfalto empoeirada ou barrenta, levando o gado para um pasto melhor. Também nesses caminhos, eu sempre fui um grande observador, ficava olhando os pés de frutas para colher mais tarde. O que mais existia eram os pés de coqueiros, que muitos hoje chamam de palmeira., e que davam aqueles coquinhos amarelinhos quando maduros. Naquela época, os pés de coqueiros inclusive eram referência de endereços. Nascidos ou eram plantados nas entradas dos sítios e fazendas, quando alguém perguntava sobre um morador da região a referência eram essas plantas. Ah! Eu sempre voltava depois para procurar algum pé de coqueiro com bastante frutos maduros caídos e comia ali mesmo. Para os que estavam bem secos, bastavam duas pedras para quebrar a casca dura e aproveitar a castanha de dentro.
Mas, além dos cocos, vi que no tronco daquela árvore alguém tinha gravado um coração e dentro dele o nome de um casal. Aliás, observei que outras árvores próximas também foram usadas por casais apaixonados, namorados ou pretendentes, para gravarem seus nomes deixando ali exposto o seu desejo de namorar ou talvez casar com aquel pessoa.
Hoje caminhando pelas estradas observo que não existem mais aqueles coqueiros com nomes gravados. O tempo passa, as pessoas mudam, o mundo gira, tudo se renova, inclusive as pessoas. Ainda bem que alguém deixou uma lembrança, como o cantor e compositor Adauto Santos que escreveu a música Triste Berrante, cuja letra traz em seu refrão o seguinte verso: “Ali passava boi, passava boiada,/ Tinha uma palmeira na beira da estrada,/ Onde foi gravado muito coração “. (FONTE: Crõnica escrita pelo leitor da FOLHA, ANTONIO JOSÉ RODRIGUES, página 2, coluna DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, 20 e 21 de abril de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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