Crônica escrita pelo psicanalista, em Londrina, publicada pelo jornal FOLHA DE LONDIRNA em 21 de março de 2019, na coluna ESPAÇO ABERTO, página 2.
Uma das coisas que as pessoas mais querem na vida é felicidade. Em qualquer povo, de qualquer classe social ou cultura, todos querem ser felizes. Ninguém se exclui quando o tema é felicidade. Mas apesar de ser extremamente desejada a felicidade ainda é muito mal entendida, e isso leva a terríveis equívocos.
Não entender a felicidade faz com que a procuremos de maneira errada e distorcida, trazendo cada vez mais infelicidade. Saímos correndo a esmo para encontra-la e fazer dela um objeto que possamos possuir. O maior erro é encarar a felicidade como um objeto, como algo que possa ser possuído.
Uma mercadoria quando está em falta leva seus consumidores ao desespero causando tumultos, desentendimentos e até violência. Muita gente perde o bom senso e age com agressividade, ganância e intolerância. Encarar a felicidade como mercadoria só levará a enganos infelizes.
Empresas e anunciantes inescrupulosos sabem muito bem o poder de transformar a felicidade em mercadoria. Assim seus produtos e anúncios estão sempre voltados para a ideia de que alguém se tiver tal e qual mercadoria ou fizer uso de tal e qual produto será muito feliz, estará sendo vencedor.
Todos querem ser vencedores. O vencedor, acredita-se, é aquele que vence a dor. Mas qual dor? A dor de ser humano e ter que lidar com os sofrimentos que todos temos que passar uma hora ou outra na vida. Achamos que se tivermos a tal da felicidade não teremos mais essa dor. Contudo, quanto mais compramos e possuímos mais a dor fica nítida e nos lembrando que a felicidade não é mercadoria.
Não só mercadorias e produtos são confundidos com felicidade, conceitos também. Muitas pessoas usam ideologias políticas como forma de prometer uma felicidade sem fim. Assim, um determinado político é líder e eleito como uma pessoa que levará todos juntos a um mítico jardim do Éden.
Não é isso que vem acontecendo ultimamente? Alguns líderes são considerados mitos e tratados como deuses na Terra. Estou falando de todos os partidos e ideologias e não só de um.
A religião também é usada com esse fim de prometer felicidade integral. “Seja desse credo” e aí todos os seus problemas acabarão e nada de ruim irá acontecer. Deus é frequentemente vendido como pílula da felicidade levando muitas pessoas a se enganar. Remédios psiquiátricos também são encarados como solução para aqueles que estão infelizes. Quando mal utilizados só levam a mais desesperos e infelicidade.
Enquanto a felicidade for procurada fora, no externo, através de um conceito, ideologia, crença ou produto será impossível ser feliz. Ela só pode se dar internamente. Ela só pode ser desenvolvida e não adquirida. Se não entendermos isso continuaremos procurando por enganos e jamais abriremos espaço para sermos verdadeiramente felizes.
Felicidade se trata de estado de mente e não de um objeto. (FONTE: Crônica escrita por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicanalista em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 21 de março de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). * Os artigos publicados devem conter os dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. Email: opiniao@folhadelondrina.com.br
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