A crise política que assola o País e que
desencadeou as últimas manifestações mostra que a população está atenta e disposta
a lutar por uma nação mais justa e honesta. Esse movimento, por sua vez, também desperta o
olhar para outros pontos, como a intolerância, e nos coloca a dúvida sobre a
capacidade de dialogar. Nós respeitamos a opinião do outro?
Observamos que o uso das redes sociais tem
ampliado a expressão de diversas opiniões de cunho político, econômico,
religioso, entre outros, muitas vezes sem que sejam avaliadas as conseqüências disso.
Atrás do computador, tablet ou celular, as pessoas se comportam de forma mais
corajosa para emitirem suas idéias. O resultado, não raro, é a falta de
respeito, de diálogo e compreensão sobre o ponto de vista do outro. Como seria
nosso dia a dia se as pessoas falassem ao vivo umas para as outras tudo o que
dizem nas redes sociais quando há divergência de opiniões? Seria o caos.
Estando a favor ou não, cada um tem o direito
de manifestar o seu descontentamento, desde que isso não gere ódio, a
irracionalidade e a exclusão, nem deteriore
o ponto de vista do outro.
Sob a influência das redes sociais, hoje é mais fácil as
pessoas se juntarem àquelas que pensam da mesma forma, e isto faz com que estes
grupos ganhem força e polarizem a discussão: De que lado você está?
Se está
do lado A, corre o risco de ser criticado ou aplaudido, assim como se você
estiver do lado B. Se não há concordância com nenhum dos lados, será criticado
por não ter um posicionamento. Porém, a
tomada de decisão sobre “de que lada está” deve acontecer com muito diálogo,
reflexão e conhecimento sobre o assunto.
Para o bem-estar coletivo, é importante
estar disposto a ouvir todas as opiniões, independente da sua. Este
procedimento é importante na medida em que, embora o outro possa divergir de
suas idéias, poderá haver contribuições e entendimento sobre a sua forma de ver o problema. Desta forma, é
possível manter o respeito e o bom convívio, diminuindo a freqüência de
comportamentos que incitam o ódio e a exclusão.
Saindo das redes sociais e vindo “para o mundo real”, estimular
conversas difíceis ao vivo pode gerar desentendimentos, mas também é o caminho
para aprender a respeitar a idéia do outro. É importante, sim, que as pessoas
conversem mais ao vivo, frente a frente.
Acima de tudo é conveniente que cada cidadão
reflita que opiniões e idéias, sejam elas quais forem, são formadas a partir de
uma história de aprendizagem, e o que
torna a opinião do outro diferente da sua são formas singulares de se
relacionar com o mundo. A cada história
de vida, uma opinião a respeito de uma determinada causa é formada, e para
entender a construção desta opinião, o
ouvir o outro se mostra essencial. Aponte seu ponto de vista, mas esteja aberto
a ouvir críticas e elogios, e reflita que sua idéia está bem embasada por conta
da sua história, e que sua experiência pode ser diferente da experiência do
outro.
Discordar é importante e válido e faz parte
da nossa democracia. São os diversos pontos de vista que fazem nossa sociedade
caminhar para frente. Uma cultura que preserva o respeito não é aquela em que
todos os seus membros partilham das mesmas idéias, mas a que sabe conviver com
as diferenças de pensamento, de valores de vida e de crenças.
O filósofo Voltaire já havia dito: “Não
concordo absolutamente com o que você diz. Mas lutarei até a morte pelo seu
direito de dizê-lo”. Isso cabe muito bem ao momento que vivemos. ( Texto
escrito por CARMEN RAZENTE CANTERO, psicóloga no Instituto de Psicoterapia e
Análise do Comportamento ( PsicC) em
Londrina, extraído do Espaço Aberto, pag 2, publicação do
jornal FOLHA DE LONDRINA, terça-feira,
24 de março de 2015).
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