A solidão é uma queixa que tem atravessado
os tempos e hoje habita com freqüência o consultório do analista. Desde Freud, ela é
mote de sofrimento e trabalho na clínica, envolvendo a vida familiar, amorosa,
profissional ou social. Sim, mesmo com um milhão de amigos nas redes sociais e
com a sensação de poder encurtar distâncias em segundos, as pessoas se sentem e
estão sozinhas.
Os mais variados saberes atestam as
dificuldades com o contato e o convívio social, mas também são unânimes em afirmar que o homem não é uma
ilha, e que sua existência depende da presença de outras pessoas. Tal condição
é facilmente perceptível no início de nossas vidas, todos fomos pequenos bebês dependentes dos adultos no mais amplo sentido,
mas é equivocado pensarmos que esta questão se restringe à infância. A
autonomia que adquirimos à medida que crescemos
não exclui a importância de mais alguém em nossa vida. Certamente não se
trata de qualquer pessoa, mas daquela com a qual podemos compartilhar idéias,
desejos, afetos ou tempo. Com quem nos sentimos próximos.
Entretanto, também não é difícil
comprovarmos em nosso cotidiano o quanto nos custa o laço social: o incômodo
causado pelas pequenas e grandes diferenças, a rivalidade e competitividade
proveniente das semelhanças, a dor da indiferença, o desespero frente às
inúmeras e diferentes demandas, o recuo necessário a alguns prazeres.
Será que hoje, quando as pessoas se
relacionam com “a menina do aplicativo” ou o “carinha da internet” e quando
acreditam excluir, deletar ou bloquear alguém de suas vidas com um
movimento do dedo, estariam tentando se proteger das inevitáveis dificuldades
que a presença concreta do outro impõe?
E quando imaginam estar presentes e controlando a vida uns dos outros através
de um aparelho celular, tratar-se-ia da produção de uma ilusão de proximidade?
Independentemente das respostas que
possamos construir para estas perguntas, sabemos que não há combate à solidão
sem presença e proximidade. Por mais paradoxal que possa parecer, aquele incômodo
trazido pelo outro, o qual sempre está associado a algum tipo de satisfação, é essencial para nossa existência. E mais, a
proximidade se dá exatamente quando a presença de alguém é o suporte dessa perda de satisfação,
o que nos permite um encontro com os
limites e com o vazio que nos habita.
Tal encontro, ao contrário de produzir
solidão e ausência de sentido, impulsiona a produção. Podemos nos pautar na
sabedoria popular que diz “quem tudo quer, nada tem” e afirmar que “quem tudo tem, nada
quer”. No jogo da vida é preciso perder para ganhar e, neste caso, jogar
sozinho, além de ser muito sem graça, é game over na certa. ( Texto escrito por ZEILA TOREZAN, psicanalista e coordenadora da
Associação Livre- Psicanálise em Londrina, publicado no espaço PONTO DE VISTA,
do JORNAL DE LONDRINA, sexta-feira, 10 de outubro de 2014).
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