Observo de minha varanda, uma paisagem física lindíssima que, dia após dia, vai se transformando em novas e diferenciadas paisagens de acordo com o calendário agrícola que estipula que de setembro a janeiro se planta e que de janeiro a maio se colhe.
A primeira delas é aquela em que a terra vermelha (ou roxa como queiram) vai sendo tombada num ir e vir de máquinas tombadeiras que chegam e expõem e revolvem as vísceras da terra por inteiro.
Dia ou dias depois, são as máquinas aradeiras que invadem o espaço para escarificar o solo o que se faz desde que o sol nasce, indo na maioria das vezes até que a noite chega ou além. Ainda, durante o dia, o revolver de toda a terra agriculturável evidencia o contraste com algumas árvores que, em declives, rebordam as paisagens com seu tom verde escuro profundo.
Já à noite, o que se consegue ver é o cenário em extrema negritude, onde sobressaem luzes das máquinas que apresentam um vaivém de tremelicantes olhinhos amarelos, lindos de observar. Essa preparação indica que a terra tombada logo vai recepcionar sementes que serão germinadas e, portanto, nesse momento, o solo ainda conserva sua cor natural inalterada.
Depois do tombamento acontece a semeadura. E novamente a dança das máquinas continua de dia e à noite num ritmo frenético, com o objetivo de aproveitar lua, clima e chuvas que virão.
Num próximo estágio, independentemente da ação humana, as sementes que nas covas foram aninhadas começam a germinar depois de haverem rasgado a superfície da terra, dando à paisagem uma nova configuração, posto que ela vai sendo pontilhada de minúsculos pontinhos verdes que, mais e mais, vão fazendo sobressair a vermelhitude do solo em contraste com o verde que surge.
No estágio que se segue, a terra vermelha desaparece da visão porque dá lugar a um manto verde que, de tão uniforme, apresenta o desenvolvimento das plantinhas nessa fase.
Tempos depois, quando a plantação tem seu tempo de amadurecimento cumprido, o cenário reveste toda a extensão do espaço com plantas amareladas enquanto, aqui e ali, se apresentam uma que outra plantinha tardia ainda verdolenga.
Os agricultores trabalham, e suam, e se esfalfam até darem conta da tarefa de colher para, logo depois de terem realizado a colheita deixarem a terra com sua nudez, novamente exposta, sendo que o ciclo recomeça. E então, a paisagem torna a apresentar seu tom vermelho natural.
Nesse lufa-lufa as mutantes paisagens se alternam e apresentam espetacular processo digno de se observar, o que faço extasiada toda vez que observo e admiro tais transformações. (FONTE: Crônica escrita por L. Beatriz Polonio, leitora da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, 3 e 4 de março de 2018, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
Nenhum comentário:
Postar um comentário