ABELHAS
Jatay todo ano vinham fazer colméia num armário de madeira na área de serviços,
e morriam aos montes, pois o armário é de guardar produtos de limpeza. Então
colocamos caixa de madeira própria para colméia, comprada em apiário, elas
adotaram e zanzanzunem feito doidas, voejando em volta, entrando e saindo da
caixa. Veremos o que sai daí. Quem diria que um dia poderíamos ter mel de
jatay.
BRAVO sumiu! Procuramos na chácara toda, até que lembrei de olhar no meu escritório, ele
estava lá dormindo tranquilamente. É que
saí fechando a porta e ele ficou lá. Estamos lhe fazendo muito carinho, está com um tumor enorme numa perna, do
tamanho de um melão. É benigno, mas não dá para extirpar com cirurgia. Então
vai continuar assim, tranqüilo que só, e com a audição sempre perfeita: se
alguém passa na calçada, ele levanta a
orelha E se alguém fala seu nome, até de longe, mesmo deitado ele abana
o rabo. Cochila quase o tempo todo, treinando para o grande sono.
FLOR de bananeira agora
estamos colhendo, só para comer picada e
refogadinha. Vimos receita na tevê, é
delícia. Assim passamos a usar a bananeira inteira: as folhas secas recobrem o
chão do bananal, os caules apodrecem em redor das mudas de frutíferas,
adubando, e comemos as bananas e agora as flores. Frase de efeito: a bananeira
é um boi vegetal.
MANDIOCAS estão quase no ponto de colheita. Aí iremos desenterrando
uma a cada semana ou quinzena, já plantando outra na mesma cova. Cabral
descobriu e a mandioca inventou o Brasil.
MARACUJAZEIRO abriu a
primeira flor! Fagundes Varela viu na flor do maracujá “coroa de
espinhos/cálice de angústias”. Não tenho visão tão dolorosa. Acho só que mais
bonita que a flor do maracujá não há. E é uma festa para as abelhas, que, além
de sugar seu néctar, suponho que polinizam, para que venham os frutos. Beleza
seguida de doçura, sem espinhos, ao alcance da mão. Obrigado, irmão!
FRAMBOEZAS, ao contrário, são frutas miúdas e de casca fina, mas
seus galhos têm espinhos mais agarrentos que roseira. Capricho da natureza,
defendendo com garras cortantes a beleza ou a doçura. Mas não é assim na vida
em geral? Tudo tem seu preço ou suas presas. O maracujazeiro mesmo, tão
amigável, no entanto é trepadeira que vai subindo em árvores, vai se
espalhando, se a gente deixar entra pela
janela do banheiro e toma banho com a gente. É preciso podar, eis seu preço.
DALVA queimando galhos no domingo de manhã é coisa de se filmar. De
macacão, botas e luvas, ela ataca os montes de galhos secos e vai jogando no
queimador, tão feminina quanto firme,
tão bonita quanto decidida. Seu macacão fica empapado de suor. Depois toma
banho, senta no terraço enquanto estou terminando o almoço, e lhe sirvo uma
cerveja gelada e cálice de cristal, ela diz que sou o melhor marido do mundo, e
eu, até por ser seu único marido, acredito. Poeminho: Não procure longe/só se
localize:/ felicidade se esconde/nas pequenices. ( Texto do escritor DOMINGOS
PELLEGRINI, extraído do espaço cultura/Crônica, pag. 21, publicação do JORNAL DE LONDRINA, domingo, 15 a 17 de
fevereiro de 2015).
Nenhum comentário:
Postar um comentário