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terça-feira, 24 de janeiro de 2017

UM DEBATE APROPRIADO


   Ainda se discute se medida provisória é o caminho racional para reformar o ensino médio. De fato, é discutível a eficácia do sistema empregado, embora se saiba que a discussão estava na inércia e, de vez em quando sacudida, com o impacto da resposta do Enem e que sempre confirmavam o diagnóstico indispensável de mudanças radicais. Agora, isso ficou comprovado com os dados do Censo Escolar de 2015, tabulados pelo Todos Pela Educação, confirmando que há falta de formação específica e que 46,3% lecionam disciplinas nas quais não têm a formação específica. 
   Por aí se vê que andou mal a proposta do governo, na mexida dos currículos, em vetar o ensino das Artes e de Educação Física, e isso em cima da realização no Brasil dos Jogos Olímpicos. O diagnóstico desse último censo revela as maiores lacunas na formação do nosso magistério ao mostrar que apenas 12% em Sociologia, 23% em Filosofia, 26% em Artes, 27% em Física e 44% em Química são formados na área em que atuam. Diante dessa realidade, resta ao Ministério da Educação sugerir com um remendo essa deficiência estrutural a adoção de cursos de complementação pedagógica. 
   O pior é que no caso paranaense dá para perceber que nosso magistério, por via sindical, jamais incluiu nas suas reflexões e assembleias questões ligadas a carência de raiz tão profundas, mas simplesmente a batalha salarial. Hoje o Paraná é uma das unidades que mais paga seus professores, mas isso não é simétrico com as posições que ocupamos em termos de eficiência no ranking nacional. De José Richa, que inaugurou o primeiro governo de oposição, que tinha um corpo de doutrina nas suas diretrizes, inclusive com forte destaque nessa área educacional, a Beto Richa o que se constata é uma degradação desse valores pela forma como o governo permitiu tal tipo de distorção, inimaginável naquele tempo quando operava no interior do governo um sistema de patrulhas pela boa causa assumida. 
   Dada a relevância da educação, o exercício aí da cobrança era uma consequência normal do engajamento nas diretrizes que foram discutidas ao longo de inúmeras assembleias em que havia comedimento entre o fator técnico e político para não distorcer as decisões. Não dá para imaginar, depois dos fatos estratificados, uma reversão e é visível que ela só pode vir do governo que isolou os professores numa visão pragmática e reivindicatória sem injetar nesse contexto a boa doutrina do mérito e da busca de aperfeiçoamento. (OPINIÃO, página 2, terça-feira, 24 de janeiro de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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