1, Pedro disse que o Brasil perdeu porque os brasileiros
não comeram feijão e ficaram fraquinhos. Ele tem apenas 4 anos e não se abalou
muito com a derrota para a Alemanha. Só chorou uma vez – e desconfio que era por fome. Logo comeu pizza e tudo ficou bem.
2. Alguns diriam que Pedro ainda
é pequeno para ter a dimensão da derrota. Mas, no fundo, a razão está com ele.
Futebol não passa de uma diversão. É um sonho coletivo que o País compartilha de vez em quando. Minha
preocupação maior agora é o feijão, não o sonho.
3. Contudo, o que dizer às crianças um pouco maiores que o
Pedro, às quais foi prometido um hexacampeão e acabou sendo entregue um Íbis?
Vários amigos meus tiveram dificuldades em consolar os filhos, que choravam
amargamente com as goleadas de
terça-feira. A esses órfãos da seleção,
resta dizer – nós erramos.
4. Eu pensei que nada superaria as dores de 1950
e 1982. Mas desta vez foi pior. Naqueles dias, o Brasil perdeu lutando até o
fim; agora veio a humilhação. Tivemos um adversário incontestavelmente mais
forte, além de magnânimo e civilizado. A Alemanha pode até perder a Copa, mas
ganhou o respeito do mundo ao mostrar uma combinação de ética e eficiência a anos –luz da nossa realidade.
5. O pior dessas derrotas – Maracanã, Sarriá, Mineirão – é que
elas ficam para sempre; não há revanche
possível, porque os cenários nunca poderão ser reproduzidos nas mesmas circunstâncias.
6. Humilhação, humildade, húmus e homem são palavras com a
mesma origem. O gosto da terra simboliza a condição humana.
7. Aquele 5 de Julho de 1982 foi o dia em que mais chorei na
vida. Na tragédia do Sarriá, meus pais e avós estavam ali para me consolar.
Agora, quando a Alemanha fez o quinto gol, confesso, quase chorei. Mas parece
que seu Briguet, ex - juiz de futebol, estava ali para dizer: “ é só
um jogo, filho ”. Paulo, Aracy, Seu
Briguet e Vó Maria foram embora. Meu
dever agora é consolar, não ser consolado.
( Texto do escritor PAULO BRIGUET, briguet@jornaldelondrina no espaço
DIA DA CRÕNICA, sexta-feira 11 de julho de 2014 )
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