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sábado, 12 de julho de 2014

O FEIJÃO E O SONHO


1, Pedro disse que o Brasil perdeu porque os brasileiros não comeram feijão e ficaram fraquinhos. Ele tem apenas 4 anos e não se abalou muito com a derrota para a Alemanha. Só chorou uma vez – e desconfio que  era por fome.  Logo comeu pizza e tudo ficou bem.
2. Alguns diriam que Pedro ainda é pequeno para ter a dimensão da derrota. Mas, no fundo, a razão está com ele. Futebol não passa de uma diversão. É um sonho coletivo que o País  compartilha de vez em quando. Minha preocupação maior agora é o feijão, não o sonho.
3. Contudo, o que dizer às crianças um pouco maiores que o Pedro, às quais foi prometido um hexacampeão e acabou sendo entregue um Íbis? Vários amigos meus tiveram dificuldades em consolar os filhos, que choravam amargamente com as goleadas  de terça-feira.  A esses órfãos da seleção, resta dizer – nós erramos.
4.  Eu pensei que nada superaria as dores de 1950 e 1982. Mas desta vez foi pior. Naqueles dias, o Brasil perdeu lutando até o fim; agora veio a humilhação. Tivemos um adversário incontestavelmente mais forte, além de magnânimo e civilizado. A Alemanha pode até perder a Copa, mas ganhou o respeito do mundo ao mostrar uma combinação de ética e eficiência  a anos –luz da nossa realidade.
5. O pior dessas derrotas – Maracanã, Sarriá, Mineirão – é que elas  ficam para sempre; não há revanche possível, porque os cenários nunca poderão ser reproduzidos nas mesmas  circunstâncias.
6. Humilhação, humildade, húmus e homem são palavras com a mesma origem. O gosto da terra simboliza a condição humana.
7. Aquele 5 de Julho de 1982 foi o dia em que mais chorei na vida. Na tragédia do Sarriá, meus pais e avós estavam ali para me consolar. Agora, quando a Alemanha fez o quinto gol, confesso, quase chorei. Mas parece que seu Briguet,  ex -  juiz de futebol, estava ali para dizer: “ é só um jogo,  filho ”. Paulo, Aracy, Seu Briguet e  Vó Maria foram embora. Meu dever agora é consolar, não ser consolado.    ( Texto do escritor PAULO BRIGUET, briguet@jornaldelondrina no espaço DIA DA CRÕNICA, sexta-feira 11 de julho de 2014 )

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