Texto escrito por Sylvio do Amaral Schreiner, psicanalista em Londrina, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA, segunda-feira, 09 de setembro de 2019
Suicídio é sempre um tabu. Muitos não falam so bre ele como se assim pudessem afastar um mal que tira muitas vidas ao redor do mundo. Tabu significa algo que seja imoral, proibido, interditado e que deve ser afastado do pensamento. No entanto, transformar em tabu algo que acontece todos os dias só piora a situação. Deveríamos falar mais sobre suicídio, refletir mais sobre ele.
Compreender o que não entendemos é sempre um bom caminho a tomar, pois assim afastamos o perigo do preconceito e das respostas prontas. O Brasil está entre os dez países em que há mais suicídio. Nos achamos um dos países mais alegres do mundo, mas com este dado vemos muitas coisas para as quais estamos fechando os olhos e, com isso, evitando encarar.
O suicídio deve ser pensado por toda a sociedade, em todas as camadas sociais e escolaridades. O Setembro Amarelo é uma campanha brasileira para a prevenção do suicídio e devemos usar este mês para abrir mais esse assunto tão doloroso.
Já é do conhecimento geral que o suicida não quer, na verdade, se matar, mas quer matar a dor que carrega dentro de si. Não vendo outras alternativas de lidar com a dor que sente, termina por atentar contra si próprio num desesperado ato. Este ato de auto violência atordoa a todos nós. Ficamos estarrecidos quando ouvimos que alguém tirou a própria vida. Os mais próximos ficam ainda mais machucados. Nos sentimos impotentes, mas talvez algo possa ser feito para que possamos diminuir esse mal tão silenciado entre as pessoas.
A saúde mental ainda é algo que não recebe toda consideração que merece. Sabemos fazer exercícios físicos, cuidar do corpo, entramos em dieta, podemos ganhar fama e dinheiro, mas tudo isso não faz com que alguém saiba lidar com a própria saúde mental. Uma pessoa pode estar organicamente saudável, economicamente segura, carreira estabilizada, família e amigos e mesmo assim pode estar sofrendo internamente. Pode estar carregando uma imensa dor e não sabe lidar com o que sente.
Infelizmente, a dor mental é desconsiderada e vista como frescura, coisa de gente que não tem nada o que fazer. Enquanto ess a mentalidade prevalecer vamos nos enfiando num buraco tenebroso. Precisamos, urgentemente nos conscientizar de que saúde mental é uma das coisas mais sérias do mundo.
Atentados agressivos, homens matando mulheres, violência nas ruas, corrupção, são mostras do quanto falta saúde mental nesse mundo. Pensar sobre ela é pensar como viver melhor. Viver um estado de saúde mental não implica que não haverá problemas e dificuldades. Eles existirão sempre, mas implica em lidar com as adversidades de uma forma mais eficiente, sem precisar adoecer ou até pgar com a própria vida.
Precisamos promover mais discussões e conhecimento sobre a saúde mental, seja na imprensa, nas escolas, nas empresas, nas famílias, etc. Precisamos começar a mudar como nos relacionamos conosco e com o mundo. Precisamos aprender a nos tratar adequadamente a fim de virarmos humanos. Um dos maiores atos de ebeldia que podemos exercer é nos manter sãos neste mundo contaminado pela insanidade. (FONTE: Texto escrito por SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicanalista em Londrina, FOLHA SAÚDE, coluna MUNDO VIVO, segunda-feira, 9 de setembro de 2019, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).
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