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quinta-feira, 13 de julho de 2017

TORNAR-SE DESNECESSÁRIO


   Mães e pais quando ganham filhos ficam encantados com aquelas criaturinhas graciosas e dependentes. É até bom que esse encantamento exista, pois sem o cuidado parental apropriado a criança não sobrevive e nem se desenvolve. A criança só aprende a se cuidar e se desenvolver quando internaliza os cuidados recebidos e ao perceber todo o carinho e atenção dispensados pelos pais passa então a se gostar verdadeiramente. 
   Com o tempo, se essa relação de cuidados funciona sistematicamente, a criança se torna um jovem mais seguro e confiante e vai cada vez mais conquistando realizações e independência. Na verdade, chega-se uma hora na vida dos filhos em que os pais não são mais necessários, não ao menos como haviam sido no passado. O filhos não necessitam deles para sobreviver porque já aprendeu a se cuidar e podem seguir em frente sozinhos e até formar suas próprias famílias. 
   Os pais, então, devem, à medida que os filhos crescem, se tornar desnecessários e isso representa um sucesso na educação dos seus rebentos. É comum haver ressentimento da parte dos pais por se perceberem não mais necessários e confundem essa nova independência com falta de amor e esquecimento dos filhos para com os pais. Todavia isso é um engano porque mesmo que os filhos não precisem mais dos pais para a sobrevivência, o amor que ficou estabelecido permanece e continua a existir junto com um sentimento de gratidão. Só que esse relacionamento se dá agora numa base mais madura e não de dependência infantil. Assim, filhos e pais podem se descobrir de uma maneira inédita e muito proveitosa. 
   No entanto, se os pais por questões próprias mal resolvidas, não conseguem aceitar as transformações que se dão ao longo da vida podem criar u problema muito grande que é, em muitos casos, interferir ou se intrometer demasiadamente na vida particular dos filhos. Muitos pais, nas melhores das intenções, forçam situações que deixam os filhos vulneráveis e frágeis e recorrentes na dependência. Aprender a se tornar desnecessário é importante para ceder espaço para o outro e para o amor crescer maduro e forte. Tornar-se desnecessário é uma arte indispensável à vida. (FONTE: SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterapeuta em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 13 de julho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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