Páginas

sábado, 1 de julho de 2017

MANIAS - e A CULTURA DO CHÁ (Coluna Aos Domingos Pellegrini)

   MANIAS
   A foto é do álbum de figurinhas “Eis o Brasil”,   das balas Atlas, que faziam o menino com a boca cheia de balas para encher o álbum. Noutro álbum, de jogadores de futebol, ficou faltando só umazinha - mas não faltei ao sorteio de prêmios, na rádio, para os que tinham completado seus álbuns. O prêmio maior era bicicleta que até hoje vejo faiscando no palco. Tinha comprado e barganhado figurinhas, tinha ganhado figurinhas no jogo de “bafo”, andava com os bolsos cheios de figurinhas e dormindo sonhava com figurinhas!
   Fiquei tão sentido de perder a bicicleta que resolvi esquecer aquilo, joguei tudo fora mas guardei a lição: manias só valem a pena enquanto não fazem sofrer.
   Agora o neto está entregue à mania do hand-spinner. Quando começou, um hand spinner (doravante hs) custava 60, caiu para 20, acha-se por 10 mas agora ele quer que eu compre não hs feito mas rolamentos, para fazer. Fala de hs, vê vídeos de hs, dorme com hs no travesseiro.
   O vô, que já viu passarem as manias dos piões, dos saquinhos de arroz, dos bilboquês e dos bambolês, desde as batalhas navais até o pokemon-go, não consegue entender a mania do hs. Caetano diz que é para desestressar, mas receio é que se estresse com essa dedicação maníaca. 
   O maníaco se dedica. Pode ser o novo-crente, cheio do sopro divino, falando sem parar de sua crença, querendo te convencer que é não só a melhor como a única que deveria existir. Pode ser o colecionador que se enche de moedas ou selos ou não importa o que, o maníaco está sempre querendo mais. Pode ser o maníaco por jogo, das cartas às loterias , ou o tarado por sexo ou por dinheiro ou poder, sempre chato porque só pensa na mania, só fala da mania, acaba sendo apenas um maníaco, E pior é quando o maníaco vira fanático: então pode ser até terrorista, crente de que vale não só morrer como também matar por uma nova vida. 
   Caetano diz que precisa de um rolamento urgente, para fazer mais um hs, digo para esperar uns dias – esperando que a mania passe. Mas logo ele pergunta quando vamos comprar o rolamento, depois trespergunta, aí digo pra deixar rolar, esperar um pouco. Esperar o que, pergunta ele angustiado. Esperar a mania passar, penso, mas nada digo. E vamos comprar o tal rolamento para hand-spinner,a coisa mais importante do mundo nesse momento. 

NOTÍCIAS DA CHÁCARA 
A CULTURA DO CHÁ 

   Flores de ibisco colhemos e deixamos secar para fazer chá. Só agora, na curva dos sessenta, adotei a cultura do chá, tão apreciada por tantos povos e de consumo crescente no Brasil. Dalva foi me aculturando, primeiro com o chá mate, depois com o chá verde, o de gengibre e outros. 
   Antes avesso a chá, agora tomo chá pra lá e prá cá. No meio da tarde, chinesamente chá verde. No fim da tarde, britanicamente chá de ibisco. Se chega visita, niponicamente pergunto que chá preferirá. A noite, antes de dormir, caipiramente tomo chá de camomila ou de erva cidreira e capim-limão. E agora mesmo vou colher hortelã para mais um chá, brindando às mudanças: um pé-vermelho, nascido na capital do café, a descobrir o chá antes tarde que nunca. (Crônicas de DOMINGOS PELLEGRINI, escritor e jornalista, d.pellegrini@sercomtel.com.br caderno FOLHA 2, colunas AOS DOMINGOS PELLEGRINI – NOTÍCIAS DA CHÁCARA, 1 e 2 de julho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).  

Nenhum comentário:

Postar um comentário