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sábado, 1 de julho de 2017

A LENDA DA FOLHA SOLTA (coluna Dedo de Prosa)


   É interessante como nossa visão de educação hoje é diferente da educação de antigamente. Antes o medo era das sabatinas que enchiam os estudantes de pavor. Havia castigos dados aos alunos que não respondiam direito às perguntas dos professores. A rigidez do ensino, no início do século passado, era resultado de uma época em que autoridade e autoritarismo quase que se confundiam. E aprender era na base da coação. 
   Diferente de hoje em que há pedagogia para tudo, exigindo do professor muito preparo para fazer a criança aprender brincando. Hoje não há aquela rigidez de antes, há tanta liberdade que às vezes o professor parece até não ter autoridade na sala de aula. Mas é claro que em casa a criança já deve ir preparada pra escola com princípios para que o professor não tenha a carga de ter que ensinar isso também. A formação do elemento humano é muito complexa e estamos numa época de limites um pouco confusas.
   Mas nem tudo no passado era autoritarismo, também havia competência e esforço assim como professores humanos e dedicados. Todos nós, em nossa vida de estudos – por mais primários que sejamos -, já tivemos algum professor ou professores que lembramos com muito carinho. Às vezes aqueles professores que mais nos corrigiam eram aqueles que mais queriam nosso bem e nosso progresso nos estudos. Talvez fossem os que mais se importassem conosco. 
   No sitio, antigamente os professores andavam quilômetros em lombo de cavalo para dar aula para algumas pessoas. O professor sempre era muito respeitado. Muitas pessoas que moravam no sítio e estudavam à luz de lampiões se tornaram empresários ou doutores. Verdadeiros exemplos de dedicação de alunos e professores que não mediam esforços para aprender e ensinar. 
   Dizem que no Japão a única pessoa a quem o imperador se curva é para o professor. Por aí se vê a importância do educador por lá. 
   Escrevi esta pequena história baseada e quase copiada de um texto de minha filha Lorena que li por esses dias e gostaria de compartilhar com os leitores deste jornal formidável que é a Folha de Londrina. Lá vai. “Esta é uma história que é de arrepiar! Primeiro foi a lenda do lobisomem que aparecia às sextas-feiras 13, todos o temiam e agora é a lenda da folha solta que aparece todos as terças e quintas-feiras nas aulas de matemática. Quando o professor passa a tarefa, sempre tem a esperança de ver as operações feitas nos cadernos dos alunos porque na apostila nunca tem espaço. 
   Ele fica triste e até um pouco bravo quando falamos a frase que deve causar-lhe calafrios. O professor pergunta: -“Onde estão as contas?”. E respondemos: ~”Numa folha separada!” Então o professor nos comunicou: .” Pessoas, (a forma carinhosa dele nos chamar”), estou muito feliz porque a maioria da turma fez a tarefa no caderno”. Então veio a seguinte pergunta: -“O que vocês acham que eu menos gosto?”. Alguns responderam – e eu também – “-De quando nós não fazemos um exercício da tarefa e depois falamos que não entendemos. Outros falaram: -De quando a gente esquece a tarefa!” Então ele falou: -“ Não! De quando vocês colocam a resposta na apostila e depois eu pergunto onde estão as contas e vocês falam que está numa folha solta”. E todos perguntaram: -“Ué, por que professor?” Ele responde: -“Porque eu não sei se você fizeram mesmo na folha ou na calculadora”. Então, nesse momento ele escreveu no quadro: -“Primeiro tinha a lenda do lobisomem que aparecia às sextas-feiras 13 e agora tem a lenda da folha solta...”
   Como escrevia meu professor de português Antônio Leatti no final das provas: -“Finus opus coronat” (o fim coroa a obra). Na verdade, acho que a obra é o próprio ensino do professor e não a prova em si. Deus abençoe a todos os professores. (DAILTON MARTINS, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, FOLHA RURAL, sábado e domingo, 1 e 2 de julho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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