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terça-feira, 4 de julho de 2017

CIENTISTAS CRIAM RECEITA PARA FABRICAR SANGUE


   Descoberta poderá ser usada no futuro no tratamento de doenças do sangue que requerem doação de medula óssea
   Técnica usa células adultas para fazer tipos celulares do sangue, mas ainda precisa ser aperfeiçoada

   Cientistas descobriram uma receita que permite produzir, em laboratório, células precursoras de todos os componentes do sangue, usando células humanas adultas. 
   O processo ainda é ineficiente e precisa de ajustes, mas abre a possibilidade de ajudar pessoas que têm doenças sanguíneas e não encontram doadores de medula óssea.
   A pesquisa saiu na revista “Nature” pela equipe de George Daley, do Hospital Pediátrico de Boston e da Universidade de Harvard. Entre os autores está também o biólogo computacional brasileiro Edroaldo da Rocha, pós-doutorando no laboratório da Daley. 
   “Durante dois anos, as pessoas conseguiram descobrir parte dessa receita, mas nunca tinham chegado lá pra valer”, declarou à “Nature” Mick Bathia, da Universidade McMaster (Canadá), que não participou do estudo. “É a primeira vez que alguém achou a receita inteira e produziu células-tronco sanguíneas.”
   O termo para designar essas precursoras é “células tronco hematopoiéticas” (do grego, “que fabricam sangue”). Em adultos, elas ficam na medula óssea e dão origem a uma grande diversidade de tipos celulares, das plaquetas que coagulam o sangue após um ferimento às hemácias que carregam oxigênio corpo afora, além de células de defesa. 
   No estudo, a equipe usou células-tronco embrionárias e as chamadas células iPS, que são obtidas de adultos mas sofrem uma reprogramação que as reconduz a um estado muito similar ao embrionário. Ambos os tipos foram transformados no equivalente de um tecido embrionário que, mais tarde, dá origem às células hematopoiéticas. 
   O segundo passo foi inserir essas células, com a ajuda de um vírus, uma série de genes que contém a receita para a fabricação de fatores de transcrição – “chaves-mestras” das células, que orientam sua transformação em tecidos específicos. A ideia era identificar quais fatores de transcrição seriam essenciais para produzir as desejadas células-tronco do sangue. 
   O teste definitivo foi injetar essas células na medula óssea de camundongos, como ocorreriam se elas fossem doadas para pacientes humanos. Em alguns dos bichos, a coisa funcionou: tanto as células reprogramadas quanto as embrionárias deram origem a uma variedade de células de sangue. 
   As possíveis aplicações são muitas. Uma pessoa com uma doença do sangue de origem genética, por exemplo, poderia receber células-tronco hematopoiéticas derivadas de seu próprio organismo e “corrigidas” com métodos de edição de DNA. Isso, em tese, resolveria o problema de saúde e evitaria rejeição, já que as células doadas originalmente vieram do próprio paciente.
   Também dá para imaginar a produção abundante de sangue em laboratório, minimizando a necessidade de doadores, ou testes mais rigorosos de tratamentos em animais de laboratório com sangue “humanizado”, como os camundongo do experimento. 
   O pesquisador brasileiro, porém, lembra que ainda é preciso melhorar muito a eficiência do processo, entre outras dificuldades técnicas. (FONTE: REINALDO JOSÉ LOPES – Colaboração para a FOLHA, FOLHA CIÊNCIA+ SAÚDE, sábado, 27 de maio de 2017, B9, publicação do jornal FOLHA DE S.PAULO).

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