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quinta-feira, 6 de julho de 2017

AUTORIDADE SOBRE SI MESMO

"Precisamos olhar ao mesmo tempo para fora e para dentro de nós. Olhar para si como pessoa", diz a psicóloga analítica junguiana Sonia Vaz

   Psicóloga e sociólogo apontam caminhos para atravessar a crise brasileira que parece não ter fim 

   O beco em que a história jogou os brasileiros é perturbador e parece não ter saída. Para a grande maioria, escapar de ser emparedado pela maior crise política e econômica, juntamente com a expectativa de um futuro melhor, se tornou uma batalha de titã. Há quem acredite que sairemos amadurecidos desta situação caótica. Mas o que cada um pode fazer enquanto isso não acontece?
   Antes de apontar caminhos, a psicóloga analítica junguiana e psicoterapeuta corporal Sonia Regina Lunardon Vaz mostra o céu de chumbo sobre o País, que contribui para o sentimento de desesperança, que se abate a cada novo acontecimento nacional. 
   “De um lado a gente percebe que a democracia está ameaçada e de outro o neoliberalismo que deseja que tudo se volte para a economia. As pessoas ainda estão se apegando às ideologias, que não cabem mais neste momento. Não cabe mais falar em direita ou esquerda. Enquanto estamos lutando por direita e esquerda, estaremos fomentando o neoliberalismo. O que caberia, então, em termos políticos? O cooperativismo. A pergunta é: ‘Por que obedecemos a este estado de coisas?’ Citaria, como exemplo, a Experiência de Milgram em que os participantes tinham que obedecer às ordens do instrutor, mesmo que fossem conflitantes com a sua consciência. Qual o limite da aceitação?
   O questionamento da psicóloga abarca grande parte da sociedade brasileira que se sente encurralada ao ver as aspirações pessoais sendo jogadas no lixo, diante do negativismo frente à falta de uma solução para o País. 
   Vaz compara que esta é a mesma sociedade que há 30 anos se assustou com o surgimento de crianças neuróticas. E hoje convive com o desenvolvimento de psicoses também nos pequenos. 
   A psicóloga orienta que uma das primeiras coisas a serem feitas para escapar do beco sem saída do atual momento é tomar para si a autoridade sobre a própria vida. 
   “Temos que mexer num vespeiro, que são as crenças da religião e da política. Precisamos nos fortalecer. A sociedade ocidental sempre olha para fora e a oriental para dentro. Precisamos olhar ao mesmo tempo para fora e dentro de nós. Olhar para si como pessoa. Aprender que a razão pode ser permeada pelas emoções “, assegura. 
   Na experiência citada por Vaz e realizada pelo psicólogo social norte-americano Stanley Milgram, em 1961, dois voluntários em salas separadas recebiam instruções, um deles na função de professor e o outro de aprendiz. 
   O aprendiz recebia do professor pequenas tarefas e se não completasse levava um choque elétrico. A intensidade do choque aumentava a cada erro. 
   No decorrer do teste, vários professores demonstraram incômodo com o processo. Porém, ao serem informados de que não seriam responsabilizados prosseguiam. 
   “O limite que temos que suportar nesta sociedade é sempre o sofrimento humano. Se está nos causando sofrimento ou à outra pessoa, é hora de parar. Só que para a mudança é preciso exercer a autoridade sobre si mesmo”, conclui Vaz. ( FRANCISMAR LEMES – Especial para a FOLHA, FOLHA MAIS, 24 e 25 de junho de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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