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sexta-feira, 16 de junho de 2017

PERIGOS PRÓXIMOS


   Um dia no shopping vi um menino, de mais ou menos 3, correndo alegremente entre as pessoas. Ele era muito simpático, uma graça, passou por mim e quando viu que eu o olhava me abriu um sorriso encantador. Procurei ao redor quem estava com ele e não achei ninguém que estava realmente atento ao menino. Continuei olhando até que uma hora o menino falou com quem acredito fosse o pai dele. Só que o pai estava de costas, sem desviar a atenção do celular e bebendo cerveja. O menino continuou passando entre várias pessoas e me dei conta do perigo que corria. Está certo que shopping tem câmeras, mas mesmo assim alguém mal-intencionado poderia fazer algum mal àquele garoto e até mesmo levá-lo embora. Fiquei preocupado com aquele menino que estava só e sem ser devidamente cuidado. Quantas crianças por aí não são cuidadas adequadamente? Que estão sozinhas no meio de tantos e assustadores perigos? Como uma criança aprenderá a se cuidar se ela não é, primeiro, cuidada? Quando somos cuidados, quando percebemos que alguém zela por nossa integridade, física e mental, temos a chance de internalizar esses cuidados e aprender a nos cuidar e zelar pelo nosso bem estar. Assim, o olhar que tinham para conosco transforma-se no autocuidado tão necessário. Queremos que muitos jovens saibam reconhecer o perigo e se defender das ameaças do mundo, mas isso será algo impossível porque esses mesmos jovens nunca viveram de forma plena uma experiência de ser cuidado e por isso não tem condições de se protegerem apropriadamente. Quem não sabe se proteger aceita qualquer convite mesmo que este leve ao perigo. Quem nunca foi cuidado pode até acabar se relacionando com pessoas agressivas e abusivas no futuro e nem entenderão que poderiam evitar esses relacionamentos. 
   Cuidar de uma criança, entretanto, não é deixá-la medrosa e desconfiada de tudo e de todos. Isso também não ajudaria em nada e só a deixaria numa posição vulnerável. Como sempre o equilíbrio é que é bom. Devemos ajudar os pequenos a investigar e descobrir o mundo ao seu redor, mas também cuidar para que eles aprendam a reconhecer os perigos próximos e não aceitar qualquer convite que em princípio soa muito bom, mas que pode ter resultados trágicos. Desse jeito, uma criança crescerá para se tornar um adulto mais preparado para a vida. (FONTE: Crônica de SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterapeuta em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, página 2,quinta-feira, 15 de junho de 2017,  publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA. *Os artigos devem conter dados do autor e ter no máximo 3.800 caracteres e no mínimo 1.500 caracteres. Os artigos publicados não refletem necessariamente a opinião do jornal. E-mail: opinião@folhadelondrina.com.br).

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