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quarta-feira, 17 de maio de 2017

UMA NOVA CONSCIÊNCIA


   Há uma história sobre uma mulher que tinha só três fios de cabelo. Ela acordou uma manhã, viu-se no espelho e decidiu que iria fazer uma trança para aquele dia e seu dia foi ótimo. Na manhã seguinte, ao acordar, notou que tinha só dois fios de cabelo e resolveu seu penteado repartindo-o no meio e o seu dia foi ótimo. Em outra manhã, só restou um fio de cabelo e ela decidiu que iria fazer um rabo de cavalo e o seu dia foi ótimo. Até que chegou uma manhã, contudo, que ao se ver no espelho, percebeu que não tinha mais cabelo algum, mas ele vibrou e disse para sí própria que não precisava arrumar o cabelo naquele dia que acabou sendo, como quase sempre, ótimo. 
   Obviamente essa história é apenas simbólica e não deve ser tomada literalmente. Todavia, ela nos mostra uma verdade da vida. A verdade é que dependendo de como olhamos para a vida nossas experiências podem ser boas ou ruins. Conforme a lente que usamos para olhar o que nos acontece, nossas vivências e interpretações terão naturezas distintas. 
   Não se trata, entretanto, de manter pensamentos positivos. Quantas vezes você tentou pensamentos positivos e nunca deu certo? Aposto que muitas. Não se trata de, superficialmente, olhar o lado bom da vida, colocar um sorriso na cara e acreditar que isso resolve tudo. Quem dera fosse fácil assim. Trata-se, portanto, de uma nova consciência, de um novo relacionamento para com a vida. Trata-se de sentir o que fazemos e como vivemos para perceber que vivemos de maneira ineficiente. 
   Quem aqui já não se deparou com um rompante de raiva e acabou brigando com todos e tudo e depois de arrependeu? E ainda prometeu que isso não ia acontecer novamente? Só que não adiantou e esses momentos de rompantes ocorreram inúmeras outras vezes. A pessoa até entende, racionalmente, que essa raiva e explosões são prejudiciais, mas não têm consciência do quanto estão se prejudicando. 
   Há uma divisão entre os que entendem superficialmente e os que sentem de fato. E o que faz alguém mudar não é o entendimento, mas o sentimento. 
   Quem fuma sabe muito bem que esse hábito é prejudicial à saúde, mas mesmo assim continua fumando. Sabe e entende os danos do cigarro, porém não sentem nitidamente o mal que está fazendo consigo próprio. Se tivesse esta consciência, pararia de fumar imediatamente e teria um autocuidado para com sua vida. A consciência de que somos responsáveis pelas nossas vidas e por muito do que nos acontece é fundamental para se viver bem. 
   Viver uma vida melhor não se trata apenas de mudar as condições externas, mas acima de tudo transformar as condições internas. Isso é um processo e não se dá mantendo um olhar superficial positivo, porém criando condições para emergir uma nova consciência sobre nós, para ver claramente como vivemos e como podemos viver. Quando uma nova consciência pode surgir podemos escolher como viver, mas antes de uma verdadeira consciência nascer é impossível escolher o que quer seja.
   Escolher a forma que vivemos é uma atividade consciente, é preciso estar desperto. Quem permanece adormecido se engana acreditando que escolher algo, mas na verdade acaba sempre se repetindo e aprisionado nos mesmos erros, dores e atitudes. No entanto, despertar não é mesmo fácil e é um trabalho para a vida toda. Não há descanso e férias desse trabalho e por isso mesmo é tão importante começá-lo já porque no fundo estamos todos atrasados. (Crônica de SYLVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterapeuta em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quarta-feira, 17 de maio de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 
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