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quinta-feira, 4 de maio de 2017

NÃO SÓ COMEMORAR, MAS AGRADECER


Faz cinquenta “Dias do Trabalho” que leio e ouço que nada há a comemorar nessa data. Mas se não há nada a celebrar, como muitos pensam, esta é uma ocasião propícia para agradecer. E não apenas agradecer nesse dia, mas em todos os dias. Porque é o trabalhador que sustenta a vida, dele mesmo, da família e de todos nós. É o trabalhador do campo, sob a inclemência do sol ou do frio, que sulca a terra, deposita nela a semente e faz a terra germinar, propiciando que o alimento nos chegue à mesa. Mas poucas vezes nos lembramos de fazer-lhe um agradecimento, mesmo que mentalmente. E se o fazemos, de alguma forma ele captará essa vibração. Há aqueles que abominam o agronegócio, mas bem que, nas rodas filosóficas dos botequins, apreciam beber uma cerveja, que resulta da aveia, da cevada, do milho, cultivados na lavoura, e apreciam o salaminho, que não é produzido pelo cozinheiro do bar mas originado do campo. Os ditos intelectuais da cidade ainda qualificam esses labutadores da roça de caipiras e criticam as músicas que eles apreciam, que é a sertaneja. 
   É o trabalhador braçal que edifica as moradias, carregando pesados baldes de argamassa e sujeitos aos perigos de acidentes e de queda das alturas. Mas entramos nessa nova habitação sem ao menos dizer-lhe, pelo sentimento, um “muito obrigado”. Sim, pagamos por ela, mas alguém construiu para nós, com o suor do rosto e um ganho que não é lá essas coisas... É a secretária doméstica que faz a comida, lava e passa nossas roupas, limpa a casa e o chão, e muitas delas ainda cuidam de nossos filhos. É o lixeiro que faz o pesado e malcheiroso recolhimento de nossos detritos, mas ao passarmos pela carga que ele vai empilhando ainda torcemos o nariz, não imaginando que tudo aquilo é produzido por nós. Em contrapartida, também cada um de nós, com nosso trabalho, está servindo ao lixeiro e a tantos, eis que somos todos interdependentes. A costureira tece nossa vestimenta, o sapateiro nos abriga os pés, o chapeleiro nos protege do sol; o mestre nos ensina, o comunicador nos fornece a notícia, o motorista nos transporta, o pesquisador e o descobridor criam os medicamentos, os médicos e enfermeiros os ministram e curam nossos males. E tanto outros. O jardineiro cultiva as flores, mas nunca lhe enviamos uma imaginária flor... Se no Dia do Trabalhar não há nada a celebrar, celebremos isto! (Crônica de WALMOR MACCARNI, jornalista em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 4 de maio de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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