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sábado, 8 de abril de 2017

VACAS IMAGINÁRIAS


   Uma das histórias budistas conta sobre um mestre que foi ao mercado com seus discípulos. Esse mestre era conhecido por ser um sábio e por usar corriqueiras situações como matéria para aprendizagem. Vendo um homem arrastando uma vaca ele o parou e chamou todos os discípulos ao redor e lhes fez a seguinte pergunta: “Quem está amarrado a quem? O homem à vaca ou a vaca ao homem?” Os discípulos pensaram e disseram que era claro a vaca estar atada ao homem, pois ele a arrastava, ele era o mestre e a vaca a escrava. O mestre sorriu, pegou uma tesoura, e cortou a corda entre o homem e a vaca. Nesse momento a vaca saiu em disparada fazendo com que o homem saísse correndo atrás dela. O mestre disse: “Agora a situação se inverteu e a vaca se tornou o mestre. Vejam, o mesmo acontece com vocês e suas mentes. A vaca é as ilusões que vocês carregam aí dentro, mas são vocês que estão interessados nela, vocês se prendem a ela e quando ela se afasta vocês correm atrás dela. Isso causa doenças e deixa o espírito pesado. Porém, se vocês se desinteressarem de tudo aquilo que não precisa vocês serão livres e não precisarão ficar presos a nada.”
   É uma verdade dolorosa de se ouvir e de saber que muitas vezes nós ficamos presos e criamos muitas situações que nos adoecem por responsabilidade (ou fala dela) nossa. Frequentemente desenhamos cenários internos catastróficos e nos atamos a tantas coisas inúteis e irreais que passamos a viver as nossas criações e não a realidade. Estar constantemente ansioso, por exemplo, é ficar correndo atrás de várias vacas imaginárias. 
   O problema é quando passamos a tratar as vacas imaginárias como reais e nos distanciamos daquilo que realmente importa. A grande maioria das adversidades que padecemos é por nos envolvermos com nossas alucinações. Uma pessoa que sofre é uma pessoa aprisionada. A saúde mental requer liberdade e esta não vem gratuitamente, mas precisa ser conquistada. É um processo longo se livrar de algumas “vacas” e necessitamos de paciência, persistência e tolerância. O caminho para ser livre é árduo, contudo é o único que vale a pena trilhar. (SULVIO DO AMARAL SCHREINER, psicoterapeuta em Londrina, página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, sexta-feira, 7 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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