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sábado, 29 de abril de 2017

O VERDADEIRO VIZINHO SOLIDÁRIO


   Ao contemplar em várias vizinhanças a plaquinha indicando: “Vizinho Solidário”, me fez recordar de alguns tempos atrás, onde a sinceridade e a solidariedade se faziam presentes, mesmo que não soubéssemos o tal significado. Vou relatar um pequeno acontecido em minha vida. Geralmente cada morador daquela colônia tinha em seu fundo de terreno a criação de alguns porcos, dos quais tirava sua gordura como prioridade e a carne para mistura nas refeições nos dias seguintes. Quanto maior e mais gordo o animal maior a fartura. 
   No dia em que era marcado para matar o animal, era uma festa pura, a nossa ansiedade de meninos para chegar esse dia era muito grande, a noite parecia infinita, acordávamos várias vezes e ainda era noite. No dia anterior, meu pai comunicavam os vizinhos que viriam ajudar a destrinchar o porco, os homens se preparavam para matar, para cortar os pedaços. As facas eram afiadas várias vezes, os temperos eram cuidadosamente preparados, desde a salsinha, cebolinha, pimenta e sal. O tacho era limpo, e as panelas também ficavam todas prontas para receber a carne.
   Quando os galos começavam a cantar, meu pai se levantava e minha mãe mais que depressa se colocava em pé, colocando fogo no fogão a lenha, preparando o café, pois o dia prometia ser agitado. O fogo já era aceso em um fogão improvisado no lado de fora da casa, o tacho enorme recebia água para ser aquecida ao ponto de tirar o pelo do animal. Aos poucos, assim como o raiar do dia, os convidados iram aparecendo, cada um com seu instrumento de trabalho. As crianças já todas empolgadas para cumprir ordens , tipo, menino faz isso, faz aquilo, pega isso, pega aquilo e daí por diante, e todos realizavam as ordens com muito prazer. As mulheres e moças se concentravam na cozinha, entre um papo e outro e muitas risadas, os homens e rapazes se aglomeravam ao redor do fogo, aguardando a hora para destrinchar o porco. O mais interessante é que quando um vizinho ouviam os gritos do porco , já comentavam> opa! temos carne hoje.
   A reunião era muito badalada, tinha aqueles que vinham para ajudar, outros pra conversar, contar histórias, dedilhar uma viola e até os que frequentavam para beber uma cachacinha. Porém, todos eram bem-vindos. Quando o porco era destrinchado, todos tinham o direito de já ir assando pedaços de carne e comendo – o que hoje seria o famoso “espetinho”. Uns usavam varetas de bambu, outros na chapa do fogão a lenha mesmo. 
   O que eu mais gostava de ouvir era quando me mãe me chamava e me entregava uma pequena vasilha com um pedaço de carne para distribuir pela vizinhança, ia saltitando pelo pequeno trilho entre as moitas de de capim cidreira, os quais demarcavam a divisa dos terrenos, entre os enormes pés de eucaliptos, ventoso e sombreado. Como recompensa sempre retornava com algo na vasilha, farinha de milho ou de mandioca, cebola de cabeça ou cabeça de alho. 
   Havia uma parte muito interessante, reunia-se um grupo de pessoas, e claro, as crianças que não podiam faltar, caminhávamos até o ribeirão de água corrente mais próximo, para lavar as tripas (intestinos). As mais finas usava-se para confeccionar as linguiças e as mais grossas, de diâmetro maior, para fabricar o famoso chouriço.
   O tacho tinha um trabalho extenso, primeiro esquentava a água, depois fritava o toucinho para fabricar o torresmo e a banha, e em seguida era usado para realizar a fabricação do sabão caseiro. Assim passávamos um dia inteiro envolvidos com aquele acontecido e, o mais importante é que toda a vizinhança e amigos participavam ativamente. Que solidariedade incomparável. (ALGIMIRO SANT’ANA, leitor da FOLHA, página 2, coluna DEDO DE PROSA, caderno FOLHA RURAL, sábado e domingo, 29 e 30 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA). 

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