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sábado, 22 de abril de 2017

Coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI: VIVA e VIVAM OS AVÓS!


   Era para ela morrer, mas a primeira astronauta lançada m 1957 para viver apenas sete dias, continua viva. 
   Laika tinha três anos quando foi capturada nas ruas de Moscou. Talvez procurassem isso mesmo, uma cadela acostumada às intempéries, com a força dos sobreviventes, além da forte genética mestiça de husky, a raça dos cães de trenó, com laika, raça nórdica com herança de resistência dos vikings.
   Certo é que Laika foi, entre as três candidatas, a que melhor suportou os treinamentos de aceleração, vibração, ruídos e comida gelatinosa, própria para a microgravidade espacial. 
   Sua cápsula, a Sputinik 2, foi construída em apenas quatro semanas: os soviéticos queriam a todo custo –ou ao custo de sua vida- colocar um ser vivo no espaço antes dos americanos. A Corrida Espacial era vitrine mundial do capitalismo e do socialismo a duelarem com tecnologia e propaganda; a colocar em órbita uma cachorrinha bonita e esperta, que posava para fotos com graça de modelo, decerto conquistaria corações em todo o mundo. 
   Mas seu coração chegou a 240 batimentos por minuto na primeira hora – talvez por ver lá fora um planeta rodeado de estrelas: a cápsula, cônica feito um grande batom, era metade metálica e metade envidraçada com uma janela. 
   Ela ia amarrada sobre almofada, num nicho estofado, com bolsa excretora atrás e, diante do focinho, a vasilha com comida. E, apesar de tudo, seu instinto de sobrevivência comeu um pouco, conforme os sensores em seu corpo. 
   Ainda não se sabia se um ser vivo suportaria subir até a ionosfera e orbitar a Terra, e Laika mostrou que sim, preparando o caminho para Gagarin e todos depois. 
   O governo russo, podendo mentir à vontade sem imprensa livre, anunciou que ela voltaria viva de paraquedas, mas depois ficou claro que isso era só para não perder a simpatia de bilhões de pessoas a torcer por ela. E depois de 163 dias, 15 órbitas por dia ou 2.570 órbitas, a cápsula reentrou na atmosfera, incendiou, explodiu e se desintegrou. 
   Bilionário pagam para ter suas cinzas aspergidas por altos aviões sobre o planeta, mas Laika não precisou pagar nada para chover sobre nós, que, infinitesimamente passamos a respirar sua poeira cósmica. Assim. Laika vive em nós. 

   NOTÍCIAS DA CHÁCARA

   VIVAM OS AVÓS!
   Aí estão os netos Pietro e Caetano “cozinhando” e deixando a pia toda suja – mas vô limpa com prazer. Afinal, estão aprendendo já o que o avô foi aprender só depois de casado... E, desconfio, é na infância que os netos absorvem mais dos avós as histórias de família e os exemplos de vida, que constroem a identidade familiar. Os causos dos avós são esteios da casa da memória, onde vivem todos os que querem viver sua própria história, se só podemos chegar ao futuro com as malas do passado. 
   Decerto também os netos sempre lembrarão de avós que deixam cozinhar, contam histórias para dormir, rolam com eles no chão, com eles sobem em árvores, viram crianças junto. Convivi de carne e alma com meus avós, mas eles nunca brincaram comigo como os avós de hoje, avós do século 20, não brincavam com os netos. Agora, quando nunca os avós viveram tanto, tomara que os netos saibam aproveitar. (Crônica escrita por DOMINGOS PELEGRINI, pellegrini@gmail.com, página 3, coluna AOS DOMINGOS PELLEGRINI, caderno FOLHA 2, 22 e 23 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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