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sábado, 22 de abril de 2017

A ROSA DAS GRAÇAS

   Ao nascer, comadre Maria e compadre José para ela escolher esse nome, talvez porque gostassem tanto de flores e tivessem o quintal mais lindo do mundo para meu olhar de criança. Ia à casa deles e ficava admirando aquele caminho de mil flores, folhagens, várias espécies, o alpendre pintado de verde, o assoalho branquinho, o quintal arborizado, a casa gostosa!
   Nesse jardim nasceu a Rosa, literalmente. Não pensem numa florzinha delicada, em numa rosinha branca, nada de "inha”. Era uma rosa rubra, vistosa, aveludada, tão perfeita, tão singular... a mais bela rosa da cidade, numa cidade em que se costumava “eleger as mais belas”, como as filhas da Elizabeth, as Mineiras, a Zilda do Manoel...
   A Rosa sempre foi assim poderosa! Enigmática, inatingível, os moços suspiravam por ela, as moças a copiavam ou então, teciam críticas por não poderem competir. Estava sempre elegante. Com qualquer roupa que também se tornava elegante quando usada por ela. Os modelos eram diferentes, exóticos, ousados e copiados por muitas. Até meu avô me contou, certa vez, que uns senhores seus amigos a chamavam de 7 copas, uma carta de maior valor no jogo de baralho! E a Rosa, aparentemente orgulhosa e fria, era amiga, conselheira. confidente, alegre, amorosa, um tanto dramática e de conversa envolvente, daquelas pessoas que você gosta de ficar ouvindo, porque o que ela diz, do jeito que diz, é música aos ouvidos e remédio para o coração. Além de tudo, Rosa era sensível e amava os animais. Certa vez ficou muito comovida e até chorou ao deparar com uma ninhada de filhotes... de ratos!
   Para a Rosa não havia estações era atemporal. Foi grande amiga da minha mãe, da minha irmã mais velha, da irmã do meio e minha amiga! E a gente se orgulhava em tê-las em nossas vidas, se alegrava quando ela ia à nossa casa. Ou quando ia bailes com minha irmã e ficavam se arrumando durante umas três a quatro horas; eu dormia e acordava e elas ainda não estavam prontas. Uma pausa aqui para o cigarro (nesta época fumar era chique), outra para o cafezinho, chamado de “boca de pito”. E chegávamos tarde ao baile, quase na hora de voltar. 
   E assim era a Rosa. Não se definia por um amor, contentava-se em ser bonita, enigmática, elegante, querida e inacessível!
   Dia desses vi a Rosa. Abraçamo-nos e conversamos amigavelmente relembrando os rumos de nossas vidas , nossas perdas e ganhos! Percebi que já não era a mesma. Perdeu um pouco a cor, mas o brilho, ah!, esse ela tem de sobra. Mesmo com a prata iluminando seus cabelos, continuava surpreendendo, além da roupa, tão singular, que lhe confere a elegância de sempre. 
   É muito bom ter uma Rosa em nossa vida! Uma Rosa encantada, apaixonada, sincera e cheia de sentimentos. Mulher forte e bonita, elegante, única, cheirosa! Uma Rosa eu marcou minha vida com o precioso perfume da amizade. Essa é minha amiga Rosa, lá das Graças! (Crônica escrita por ESTELA MARIA FREDERICO FERREIRA, leitora da FOLHA, página 2, caderno FOLHA RURAL, coluna DEDO DE PROSA, 22 e 23 de abril de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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