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sábado, 4 de março de 2017

A SIMONE MAIS AMADA DA CIDADE


   Quando você cruzar o Rio Tibagi, lá pras bandas de Jataizinho, onde a terra é vermelha e o céu é bem azul, olhe para o lado. Aquela ponte ferroviária abandonada carrega uma grande declaração de amor extremamente calculada. Cada um dos treze pilares que sustentam a estrutura inaugurada em 1935 ostenta uma letra. A correria do dia a dia, a indignação pelo preço do pedágio, o reajuste da gasolina ou mesmo a rotina mecânica de quem percorrer a BR-369 escondem a mensagem marginal de 300 metros de extensão em letras garrafais: SIMONE EU TE AMO.
   Quem é Simone? A de Beauvoir ou a da música de Natal? A que faz dupla com Simaria não deve ser, porque a pichação é mais antiga que a aparição do mais novo sucesso do sertanejo de balada. Mais provável que seja uma moradora de Jataizinho mesmo. Talvez trabalhava em alguma das cerâmicas da cidade. E o rapaz apaixonado? Um operário, pintor, ou só um pichador mesmo? Em meio a tantas perguntas, uma se sobressai: teria tamanho empenho surtido efeito?
   Dois anos mais antiga que a ponte que permitiu a chegada do progresso ao Norte Novo, Noel Rosa compôs “Três Apitos.”... “Você que atende ao apito/ de uma chaminé de barro/ por que não atende ao grito tão aflito/ da buzina do meu carro?”. Ah, Simone, sua desnaturada! Talvez o pai não tenha permitido o namoro ou talvez o coração dela já tinha se deixado levar por outro rio que passou em sua vida. 
   O fato é que Simone pode ter se comovido com tal gesto. Por certo se casaram tiveram filhos. Hoje moram nas regiões próximas ao Ribeirão Jataizinho. Toda vez que chove mais forte é um sufoco    - Simone, vamos correr erguer os móveis que lá vem mais uma enchente, grita o poeta da Vila Francisco, segurando os dois filhos mais novos pelos braços. O mais velho já está no meio da rua, nadando na água suja. 
   A curiosidade foi tanta que entrei em contato pelas redes sociais com uma Simone em Jataizinho para descobrir pistas sobre a declaração de amor que tiraria o sono de João Dória. 
   - Não sou eu. Bem que gostaria que fosse, mas meu marido disse que não foi ele quem escreveu lá na ponte – disse às gargalhadas. Em seguida, surge uma ou duas pistas sobre a verdadeira Simone da Ponte e seu admirador. 
   Pelas estradas do Norte do Paraná, vou seguindo as placas e os letreiros tentando desvendar suas histórias; “Vende-se minhocas”. “Dor nas costas? Massagem com Jorge Japonês”, “Proibido jogar lixo. Sujeito a tijoladas”. Boite Drinks & Girls”.
   Quando amanhece, é hora de pegar o bloquinho, botar na sacola e seguir viagem. ( Crônica de CELSO FELIZADO, jornalista da FOLHA, página 2, caderno FOLHA RURAL, coluna DEDO DE PROSA, 4 e 5 de março de 2017, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

2 comentários:

  1. Dizem que foi o pica pau um procurado pela polícia por tentativa de homicídio é roubava gasolina do trem

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  2. dizem que um homem amava muito essa tal de simone, mas ao levar um fora de sua amada, e ver ela com outro, escreveu 'simone eu te amo' antes de se jogar da ponte, ja passei por la muitas vezes, mas essa historia que sempre me cntam.

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