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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

MERCADO TEM DEFICIÊNCIA DE PROFISSIONAIS BILÍNGUES

"Veterinários pensam que o mercado se resume a clínicas. Eu mesma não sabia que o inglês seria tão necessário no meu trabalho", disse Beatrice Morrone, contratada por dominar a língua inglesa

   Em algumas áreas, como pedagogia e medicina veterinária, empresas enfrentam dificuldades para encontrar quem tenha fluência em um segundo idioma

   Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, os profissionais têm buscado especializações e muitos cursos em suas áreas de atuação para se conseguirem se destacar. O que muita gente acaba deixando de lado nessa formação é um quesito muito importante e escasso em algumas profissões: a fluência em outros idiomas. Isso tem aberto um mercado muito promissor para quem tem o domínio de uma segunda língua. 
   Um estudo feito em 2013, pela British Council mostrou que apenas 5% da população brasileira com 16 anos ou mais possui algum conhecimento de inglês. Na publicação desse estudo, a instituição inglesa concluiu que esse índice tão baixo é devido à falta de qualidade, somada ao baixo acesso do brasileiro a cursos privados de inglês. 
   Mais do que um diferencial no currículo, a proficiência em outro idioma muitas vezes é essencial para o desempenho de determinadas funções. Na escola bilíngue Maple Bear, por exemplo, além da formação em magistério, pedagogia ou letras, é preciso ter fluência no inglês, já que os alunos são alfabetizados em português e inglês. “A gente sofre para encontrar professores porque entre os profissionais de magistério e pedagogia é muito difícil terem o inglês. Letras é mais comum porque a graduação já tem a habilitação em inglês”, conta a diretora da escola, Andrea Pizaia Ornellas. 
   Segundo ela, é muito comum encontrar candidatos com boa formação e experiência, mas sem o domínio do inglês. O inverso também acontece bastante. “Recebo muitos currículos de pessoas que tem o inglês fluente, mas têm formação em direito ou outras áreas que não é a que precisamos”, conta. 

   SAÚDE

   A dificuldade para encontrar profissionais de determinadas áreas com fluência em idiomas estrangeiros não é exclusivamente de escolas bilíngues. Na Venco Saúde Animal, o cenário é o mesmo.“ “Nosso quadro técnico é composto de farmacêuticos, médicos veterinários e biólogos. Sempre que precisamos de contratar esse tipo de profissional, principalmente médicos veterinários, temos muita dificuldade”, conta a supervisora de recursos humanos, Gisele Ré. Segundo ela, normalmente é preciso divulgar a vaga nacionalmente para conseguir encontrar profissionais dessas áreas que sejam belíngues. “Mesmo abrindo mão da exigência de experiência, é difícil encontrar candidatos”, ressalta. 
   Para Gisele, não faz parte da cultura dessas profissões ter o domínio de outros idiomas. A médica veterinária Beatrice Morrone, contratada há seis meses, concorda. “Na minha turma, apenas três ou quatro alunos, de um total de 80, falavam inglês. Veterinários pensam que o mercado se resume clínicas. Eu mesma não sabia que o inglês seria tão necessário no meu trabalho”, conta. Hoje ocupando o cargo de analista de assuntos regulatórios para exposição, Beatrice agradece ao pai, que cobrava dela ainda criança que estudasse inglês e inserisse o idioma em sua rotina. 

   ESPANHOL

   Normalmente, o inglês é o idioma mais procurado pelos recrutadores, mas isso varia de acordo com a empresa e os mercados em que ela atua. Na Venco, o espanhol também é requisito na seleção dos funcionários. “Nós exportamos para países da África e da Ásia, mas nosso principal mercado é a América do Sul, por isso o espanhol é importante”, explica Gisele. 
   Por enquanto, segundo ela, a exigência de um segundo idioma se restringe a alguns cargos, mas, diante da meta de aumentar a participação das exportações no faturamento da empresa, de 20% par 50% até 2021, todos os departamentos terão de ser belíngues. “Ter domínio de outro idioma não é mais questão de luxo. No nosso caso, é necessário que a empresa consiga atingir seu objetivo”, argumenta. 

   CAPACITAÇÃO

   Para preparar os profissionais para esse futuro próximo, a empresa está promovendo um curso in company , além de parcerias com escolas de idiomas. E para tentar mudar a cultura monolíngue dos médicos veterinários, a Venco planeja realizar palestras técnicas nas universidades. “Precisamos mostrar aos alunos, já no primeiro ano de graduação, a necessidade de ter o domínio de idiomas. Quem sabe até o final do curso, eles tenham, pelo menos, o nível intermediário”, poderá a supervisora. 

   FLUÊNCIA É DETERMINANTE NA REMUNERAÇÃO    

   Mais do que um diferencial no currículo, o domínio de um idioma estrangeiro tem sido determinante não só na contratação, mas remuneração de profissionais. Uma pesquisa divulgada em 2016 pela empresa de recrutamento Cartho mostrou o peso que a fluência em um segundo idioma pode ter no salário de brasileiro. “Em cargos de coordenação, por exemplo, uma pessoa que fala inglês pode ganhar até 61% a mais do que um trabalhador que tem apenas conhecimento básico no idioma”, conta o gerente de Marketing da Cartho Educação, Fernando Gaiofatto. 
   Segundo ele, o estudo levou em consideração também o impacto do conhecimento de espanhol na remuneração de profissionais. “No nível de coordenação um trabalhador fluente no espanhol pode ganhar até 54% a mais do que outro que tem apenas conhecimento básico”, exemplifica. 
   Mas nem só de inglês e espanhol vive o mercado de trabalho. Segundo Gaiofatto, dependendo do setor de atuação da empresa, outros idiomas podem ser exigidos. “Em engenharia, por exemplo, saber falar alemão pode fazer uma grande diferença no currículo”, afirma. 

   SUPERESTIMA

   Segundo Gaiofatto, um dos principais erros dos profissionais na hora de especificar no currículo seus conhecimentos de um idioma é achar que tem um grau de conhecimento superior à realidade. “Por exemplo, uma pessoa coloca no currículo que tem inglês fluente, mas na hora da entrevista ou até mesmo num teste de nível aplicado pela própria empresa, percebe-se que o nível dele é intermediário”, explica. (J.G.) JULIANA GONÇALVES – ESPECIAL PARA A FOLHA, caderno FOLHA EMPREGOS & CONCURSOS, segunda-feira, 30 de janeiro de 2017 publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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