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quinta-feira, 17 de novembro de 2016

'É UM RISCO SUBESTIMAR O VÍRUS ZIKA'

"Não se sabe se o vírus pode se reativar ou mutar, como no caso da dengue, que possui hoje quatro subtipos", frisa Adriana Melo

   Alerta é da médica brasileira Adriana Melo, responsável pela primeira pesquisa que estabeleceu relação entre o vírus e o surto de casos de microcefalia
   Rio de Janeiro – Um ano após a explosão de casos de zika vírus na América Latina, a doença continua a ser “negligenciada” mundialmente, principalmente pelos países ricos, mas “é um risco subestimar este vírus”, cujas complicações podem ser mortais, alerta a especialista brasileira Adriana Melo.
   Primeira a estabelecer a ligação entre o zika e os casos de microcefalia em bebês nascidos de mães infectadas, a médica lança um apelo para que se “estude melhor esta doença que veio para ficar”. 
   “O zika é uma doença negligenciada no Brasil e no mundo. Devemos lembrar que hoje sabemos que existem outras vias de transmissão (por contato sexual) que pode surgir em qualquer lugar e em qualquer país”, alerta Adriana, em entrevista à AFP, paralelamente a uma reunião de especialistas internacionais no Rio de Janeiro para fazer um balanço das pesquisas relacionadas à doença, na última semana. 
   “Esta é uma doença que não interessa a muitos países ricos, porque acreditam que ela não chegará até eles, mas é um risco subestimar este vírus. Tenho muito medo de vírus”, alerta, acrescentando que o Brasil continua sob a ameaça de muitos vírus, incluindo a “febre amarela, já presente na Amazônia”.
   Ela lamenta que há “poucos estudos clínicos sobre o zika em comparação com estudos de laboratório”, recordando que este vírus pode resultar não apenas na microcefalia em bebês (perímetro craniano menor que o normal, que leva a um atraso no desenvolvimento), mas também em uma síndrome neurológica grave, a síndrome de Guillain´Barré em adultos, as duas potencialmente fatais. 
   O Brasil tem sido até agora o pais mais afetado pela epidemia de zika, com cerca de 1,5 milhão de pessoas infectadas e 2.079 bebês nascidos com uma malformação no cérebro, de acordo com dados oficiais. Há também, 3,077 casos que ainda estão sob estudo.
   Por enquanto, não existe tratamento nem vacina para a doença. 
   Outros países do continente, como a Colômbia, Venezuela e, em menor medida, México e Argentina, também são afetados. Os Estados Unidos registraram pela primeira vez em julho casos de contaminação na Flórida. 
   ‘CONDIÇÕES IDEAIS’
   Adriana recomenda aproveitar “a calmaria após o surto de 2015 para que evoluam as pesquisas sob este vírus”, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, também vetor da dengue e chicumgunya.
  “A redução do número de casos não significa que o vírus não exista mais. Nós ainda sabemos muito pouco (a seu respeito). Não se sabe se o vírus pode se reativar ou mutar, como no caso da dengue, que possui hoje quatro subtipos”, afirma a especialista. 
   Casos da doença vêm aparecendo desde 2013 – 2014 na Polinésia Francesa, mas “como é um país pequeno, não atraiu a atenção internacional”.
   No Brasil, “o vírus encontrou condições ideais” para se espalhar, especialmente no Nordeste, onde há problemas de saneamento básico e uma seca severa, que leva a população a armazenar água, fatores ideais para a proliferação do mosquito. “Mas não sabemos o porquê houve esse número terrível de casos no Nordeste e tão poucos no Rio de Janeiro, onde ainda há muitas favelas”, finaliza. (FRANCE PRESS, FOLHA SAÚDE, segunda-feira, 14 de novembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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