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segunda-feira, 3 de outubro de 2016

DIVÓRCIOS EM ALTA


   Separações crescem 87,5% em dez anos no Brasil, segundo IBGE. Maior incidência é entre casais com mais de 20 anos de união e o principal motivo é a traição.
   As notícias envolvendo celebridades no Brasil e no mundo sintetizam uma realidade que faz parte da vida das pessoas comuns. Se antes o casamento era para toda vida, hoje os casais escolhem o divórcio ao invés de continuarem numa relação que já não faz mais sentido, como bem mostram Fátima Bernardes e William Bonner ou mesmo Angelina Jolie e Brad Pitt. A tendência se expressa nos dados coletados pelo Instituto de Geografia e Estatística (IBGE). Entre 2003 e 2013, o número de divórcio cresceu 87,5% no País. No Paraná, o aumento foi de 85% e na Região Metropolitana de Londrina, 84,8%.
   Nos Cartórios, onde são realizados os divórcios consensuais sem filhos, também houve aumento. No Paraná, 3.089 divórcios em 2007 e 8.276 em 2015. Já no Brasil foram 15.433 casos em 2007 e 58.151 em 2015. Os dados são da Associação dos Notários e Registradores do Brasil (Anoreg-BR) junto ao Colégio Notarial do Brasil (CNB), captados por meio da Central Notarial de Serviços Eletrônicos Compartilhados (CENSEC).
   De acordo com o último levantamento do IBGE, a idade média do homem ao se divorciar passou de 44 para 43 anos , entre 1984 e 2014, enquanto a das mulheres era de 40, nos dois casos. Também são mais frequentes os divórcios entre os casais com um ou dois filhos e com mais de 20 anos de casamento.
   A causa mais objetiva que justifica o expressivo aumento das chamadas dissoluções matrimoniais é o crescimento populacional que provocou não só o aumento de casamentos, mas também os divórcios. “ Outro ponto é que as pessoas se tornaram, por um lado, mais intolerantes -, e, por outro lado, mais liberais, não prezando por um único e exclusivo relacionamento ao longo da vida”, opina a advogada Priscila Gomes da Fonseca, especialista no assunto. 
   Ela destaca que essa nova realidade reflete também a queda de paradigmas que eram arraigados na sociedade, pois o término de um relacionamento não é mais visto de forma preconceituosa. 
   A advogada destaca que em geral, a decisão do divórcio parte da mulher. “ Normalmente por não suportar mais determinada situação dentro do matrimônio”, pontua, lembrando que o motivo mais comum para as separações é a traição. “ Outros motivos são referentes aos problemas financeiros e às agressões físicas e verbais”, diz.
   Diante da experiência profissional, Priscila afirma também que a decisão pelo divórcio  ocorre depois que iniciativas de melhoria do relacionamento foram adotadas, mas sem sucesso. “ É um processo natural que visa o bem-estar de ambos”, acrescenta, lembrando que o acordo consensual é sempre a melhor forma de conduzir o divórcio. “ É a maneira menos traumática de lidar com a situação, principalmente quando há filhos envolvidos. Porém, são poucos os casos em que o entendimento acontece”, opina. 
   Com relação a guarda dos filhos, a especialista recomenda que o interesse dos menores deve ser sempre colocado em primeiro lugar. O convívio dos filhos com o pai e a mãe – independentemente de quem tenha a guarda – deve ser prioridade a ser preservada. Quanto à divisão dos bens, ela alerta que os brasileiros costumam se casar sem saber o que é regime de bens, o que causa confusão no processo de divórcio. Atualmente há quatro regimes possíveis: comunhão parcial de bens, comunhão total de bens, separação total de bens, participação final nos aquestos. 
   “ Costumo dizer que é preciso pensar no patrimônio mesmo antes de pensar no matrimônio. Muitos casais se unem sem saber as minúcias do contrato matrimonial e acabam pagando caro por isso. É melhor fazer logo um contrato e definir, desde o início do relacionamento, o regime de divisão de bens”, aconselha. 
   É POSSÍVEL RECOMEÇAR
   O aumento no número de divórcios não significa que haja uma descrença no casamento. Ao contrário, a tendência é explicada porque as pessoas estão casando mais de uma vez ao longo da vida. “ As pessoas ficam em um relacionamento apenas porque desejam, ninguém mais continua casado por necessidade”, ponta a psicóloga Ana Maria Addôr, especialista em terapia familiar e de casais sistêmica e supervisora da Clínica de Psicologia da Unifil.
   Segundo ela, ao contrário do que ocorria no século passado, as mulheres trabalham, são capazes de se manter e os homens também conseguem cuidar da rotina doméstica sozinhos. Essa redefinição dos papeis incentivam as pessoas a continuarem casadas apenas quando gostam do outro e enxergam parceria no relacionamento. “ Isso é bom, porque as pessoas estão casando pelo motivo certo: por companheirismo, para formar uma família... Ao contrário de outros tempos, quando as pessoas casavam por necessidade, por medo de ficar sozinha ou para sair de casa. Esses são motivos errados”, considera. 
   Ana também discorda quando dizem que o divórcio ocorreu porque o casamento “não deu certo”. “ Muitas vezes foi um bom casamento, mas as pessoas mudam e decidem pelo fim do relacionamento”, diz. Para ela, quando não há mais chance de manter a relação, é importante iniciar o processo de separação enquanto ainda há amizade e respeito entre o casal. A separação realizada com mágoa, raiva e tristeza é mais sofrida. Além disso, dificulta manter uma relação entre pais”, lembra. 
   A terapia de casais é uma opção para as pessoas que gostariam de manter o casamento apesar das dificuldades. No processo, é possível revitalizar a separação, desde que haja desejo dos dois envolvidos. “ É preciso haver cumplicidade, admiração... Até mesmo a infidelidade pode ser trabalhada, quando o infiel escolhe o casamento”, afirma, destacando que continuar casado é uma escolha. “ As pessoas mudam, os filhos chegam e se o casal não conversa, não cuida da relação, o casamento acaba não indo para a frente. Mesmo os casamentos felizes precisam ser trabalhados”, avalia. 
   Falar sobre os incômodos, aceitar o jeito do outro, manter a admiração e sobretudo respeitar a liberdade e o espaço individual de cada um são atitudes necessárias para manter uma relação saudável. 
   Se a separação for inevitável, a terapia de casais ou familiar também é um caminho para que o processo seja um pouco menos doloroso. Com a intermediação de um profissional, é possível trabalhar a mágoa e raiva o que minimiza inclusive o sofrimento dos filhos. (C.A.)

   ‘NÃO TROCO MINHA VIDA POR NADA’
   A professora aposentada Ana Maria Roman se separou do marido em meio à mágoa e decepção de ter sido traída. Doze anos depois, porém, ela deu a volta por cima e garante que, hoje, tem com o ex-marido uma relação melhor do que quando eram casados. 
Os   dois viveram juntos por 28 anos. Por quase três décadas, ela considera que abriu mão dos próprios sonhos para viver o sonho dele – que é político – e dos dois filhos. “ Eu era muito dedicada à nossa relação, mas não consegui tolerar as muitas traições. Então pedi a separação e literalmente coloquei ele para fora de casa”, conta.
   Ana Maria admite que enfrentou alguns meses de muito sofrimento. “ Depois entendi que tinha que partir para outra. Hoje nos damos muito bem, somos amigos”, conta ela, que chegou a ficar casada por cinco anos com outra pessoa sem abrir mão da amizade com o ex. “ Hoje saio bastante, viajo e participo de festas. Me considero mais feliz”, diz.
   Ana Maria e o ex-marido estão sempre em contato. “ Sabemos que podemos contar um com o outro, mas sem sentimentos que não seja a amizade. Sei que posso recorrer a ele, inclusive, financeiramente, revela. 
   Ela conta que, quando se viu sozinha, foi obrigada a se perguntar o que esperava da própria vida. “ Foi um renascimento, pois descobri que posso fazer muitas coisas. Não troco minha vida atual por nada. SERVIÇO-  A Clínica de Psicologia da Unifil atende gratuitamente casais ou famílias que precisam de acompanhamento.  Informações; (43) 3375-7551. (CAROLINA AVANSINI – Reportagem Local, página 10, FOLHA Especial reportagem2@folhadelondrina.com.br 1 e 2 de outubro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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