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domingo, 11 de setembro de 2016

SENHORAS EMPRESAS


   Em Londrina, das mais de 25 mil empresas, só 78 (0,3%) ultrapassaram cinco décadas

 Num País onde aproximadamente um quarto das empresas não completa o segundo ano de existência, ultrapassar cinco décadas é privilégio de poucas, como a Folha de Londrina que tem 67 anos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de empresas brasileiras fundadas antes de 1966 é de 22.768, num universo de 5.103.357, ou seja, 0,45%. No Paraná, são 1.392, de 413.644 (0,34%) e, em Londrina, somente 78, ou 0,31% de um total de 25.485.
   Ricardo Magno da Silva, consultor do Sebrae, afirma que um dos fatores que põem em risco a longevidade das empresas é a sucessão. “Trata-se de uma questão que envolve aspectos culturais e de intimidade. É difícil esse momento em que um dirigente assume ainda sem a maturidade do fundador. Ele até estudou, fez graduação, pós-graduação, mas não tem toda a experiência”, explica
   De acordo com Silva, a sucessão é um processo longo, que pode durar até cinco anos e que envolve a “transferência da liderança” entre duas gerações. “Isso gera dificuldade. É um momento particular e impactante na vida das empresas”, declara. 
   DISCIPLINA
   Alberto Rapcham, que há 50 anos fundou a Indrel, já passou o bastão para um dos quatro filhos. Hoje, é presidente do Conselho de Administração da empresa e diz não ter sentido dificuldade na sucessão. “Não foi difícil porque os filhos, desde pequenos, trabalhavam juntos. E eu sempre perguntava: querem continuar na empresa?”, conta. Dois alçaram voos próprios. 
   Aos 79 anos, Rapcham diz que sempre foi um pai rígido. “Assim como eu, meus filhos começaram a trabalhar muito cedo.” Disciplina e dedicação, segundo ele, são a chave do sucesso de qualquer empresa. Mas é preciso ir além. Para ser longeva, precisa sempre se reinventar. 
   “Começamos fabricando e comercializando transmissores de rádio na rua Mato Grosso. Todo dia passava gente perguntando se vendíamos geladeira”, recorda. Na época, conforme afirma o empresário, as multinacionais de eletrodomésticos ao País. “Eram pequenas fábricas, cerca de 50, que produziam as geladeiras. “Rapcham montou a dele, a RL, que durante muitos anos produziu e vendeu o eletrodoméstico para o Paraná, São Paulo e Santa Catarina. A empresa foi pioneira na fabricação de freezers comerciais. “Produzimos os primeiros horizontais para a Coca-Cola”, orgulha-se. 
Num outro momento, a fábrica passou a produzir sistemas de ar-condiconado para empresas. Com a fundação da UEL, em 1970, abriu-se para a Indrel um nicho de mercado que ainda hoje é seu carro-chefe: os equipamentos de refrigeração científica. “O primeiro que fizemos foi um equipamento para conservação de sangue”, recorda. Hoje, os negócios estão divididos entre duas empresas, a Indrel Scientific, e a VHR, que se dedica apenas aos sistemas de ar-condicionado. 
   TRADIÇÃO 
   Tadamasa Ajimura é o dono de uma das mais antigas empresas da cidade, o Bazar Ajimura, fundado há 61 anos na Rua Sergipe. Assim como o avô e os pais, Ajimura dedicou a vida ao estabelecimento. “Trabalho na loja desde os 8 anos. Vinha da escola para o trabalho, não tinha outro lugar para ficar”, conta. Na época, o centro da cidade era puro barro. 
   Questionado sobre como manter uma empresa por tantas décadas, ele afirma não haver segredo. “Sempre trabalhamos bastante e prestamos bom atendimento”, resume. À cliente fiel, o comerciante é só agradecimento. “ A gente é o que é graças a eles.
   O comerciante não tem certeza, no entanto, se conseguirá passar o bastão para a quarta geração. “Tenho três filhos, dois estão em São Paulo. Eles dizem: ‘velho, vai aguentando aí, quando nos aposentarmos vamos cuidar da loja’. Mas, como eles estão na casa dos 40 anos, vou ter de esperar até os meus 100 “, brinca. Não é de duvidar que consiga. Sua mãe, dona Tokiko, aos 98 anos, ainda trabalha na loja. Passa o dia inteiro atendendo no balcão. É a vida para ela.”
   GESTÃO CONSERVADORA
   Uma administração conservadora nas finanças é o segredo da longevidade do Instituto Cultural Brasil Estados Unidos, que completou 60 anos. “Não gaste o que não tem. Essa era a filosófica que minha avó passou para a gente”, afirma o diretor executivo, Ely Torresin, referindo-se à fundadora Dolly Jess Torresin. 
   Segundo ele, Dolly sempre foi contra empréstimos. “Sei que isso vai contra princípios da administração e da economia, mas ela agia ssim: planeja, poupava e investia”, ressalta. 
   A escola de inglês que é filiada a uma associação implantada pelo governo norte-americano na América Latina para “combater comunistas”, sempre concorreu com as grandes franquias. “O fato de nunca termos dívidas nos dá a liberdade de arriscar um pouco mais que a concorrência, que é bastante forte”, afirma. 
   A gestão, segundo Torresin, sempre foi “profissionalizada” e os integrantes da família tiveram de se esforçar para chegar aos cargos mais importantes. “Comecei a trabalhar na empresa cortando grama, lavando carro, pintando parede. Trabalhei na secretaria, dei aula”, enumera. (NELSON BORTOLIN – Reportagem local, caderno FOLHA ECONOMIA, página 8, 10 e 11 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

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