Páginas

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

PESSOAS TRANS E O DIREITO À VIDA


   Nas últimas semanas temos acompanhado por esse órgão de imprensa algumas discussões e posicionamentos diante das questões de direito e acesso à cidadania de travestis e homens e mulheres transexuais. Tivemos espetáculos no Festival Internacional de Teatro de Londrina (Filo) que nos levaram a problematizar sobre essas pessoas trans e suas inserções na sociedade, do quanto essas pessoas têm seus direitos de acesso à saúde, à educação, à moradia, à segurança pública e religiosidade negados, ou no mínimo, refutados enquanto direitos à humanidade. Isso me fez evocar uma questão: quanto de humanidade tem em nós para aceitar e respeitar as pessoas que diferem de nós mesmo? Ou, que direitos temos a partir de nós mesmos de discriminar, excluir e matar nossos semelhantes que têm outros projetos para suas vidas que não coadunam com os nossos? Diria que se trata de fascismos em nós , de autoritarismos que estabelecidos de narcisismos nos fazem com que nos sintamos autorizados de massacrar, humilhar e fechar portas de acesso de bens e serviços de qualidade que defendam a vida como valor maior. 
   De modo contínuo, no último domingo foi publicado na FOLHA a excelente entrevista com o médico João Roger (Entrevista, 10/9) que atende essa população em ambulatório específico a essa comunidade na cidade de Florianópolis (SC). Sua excelência se efetiva pelos posicionamentos políticos desse médico que vem de encontro às nossas pesquisas que vimos realizando nos últimos 15 anos com essa população, e que denunciam os descasos marcados pela ausência de políticas públicas inclusivas e de respeito às diferenças humanas. Os achados e problematizações feitas pelo entrevistado não estão distante de Londrina se considerarmos poucas ou quase nada de ações da prefeitura e da Câmara Municipal que de fato se preocupe com o bem-estar e qualidade de vida dessas pessoas. Em nossas incursões junto a essa comunidade nos deparamos com informações de diversas violências vividas que, muitas vezes, têm início na expressão da transfobia exercida por famílias desinformadas,   por vizinhos agressivos, mas também na transfobia presente nas ações dos operadores e operadoras nas áreas da saúde, da educação, da segurança pública, enfim, que cerceiam seus direitos à vida que em uma sociedade que se diz democrática e laica deveria respeitar a todas e todo sem discriminações. 
   Ainda nos deparamos com a dificuldade das pessoas e dos órgãos públicos em respeitar as identidades/expressões, de gêneros que solicitam essas pessoas em serem reconhecidas e respeitadas, de acordo com as demandas identitárias/expressões solicitadas e, que a nosso ver, poderia ser bem mais simples e respeitoso se esses mesmos agentes públicos tivessem o cuidado mínimo de perguntar para essas pessoas como elas gostariam de ser chamadas/tratadas, ou seja, se querem ser chamadas ou chamados pela flexão masculina ou feminina. Simples não? Com essas ações mais respeitosas, com certeza o mundo poderia ser um pouco melhor e as pessoas de fato poderiam exercitar seus direitos de cidadania e de felicidade. (WILIAM SIQUEIRA PERES, professor do departamento de Psicologia Clínica e programa de pós-graduação em Psicologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Assis (SP), página 2, coluna ESPAÇO ABERTO, quinta-feira, 15 de setembro de 2016, publicação do jornal FOLHA DE LONDRINA).

Nenhum comentário:

Postar um comentário